"Ando devagar/porque já tive pressa..."

"Ando devagar/porque já tive pressa..."
"Nessa loooonga estraaaaada da viiidaaa..."

Blog destinado a narrar as vivências do autor, através de suas opiniões sobre fatos vividos, e de marcações cronológicas, objetivando deixar para descendentes e amigos suas impressões sobre passagens de sua vida, abrangendo pessoas com sd quais se relacionou e instituições em que laborou, tudo com a visão particular, própria de todo ser humano, individualizada, pois cada pessoa tem sua forma de pensar, ser e viver. Madeira

segunda-feira, 30 de junho de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1989/1992)


Iniciando - só iniciando - o processo de aposentadoria...


1989/1992: nestes anos, como nos últimos e nos próximos, as novidades são muito poucas e do conhecimento de vocês, filhos, netos e compadres, pois os vivenciaram conosco e por isso estão sendo comentados em agrupamentos de anos, além de quê, com a nossa radicação no Espírito Santo, em Vitória, e com os empregos fixos, as novidades rarearam. A vida ficou estabelecida de maneira rotineira, com a clara definição dos dias úteis, com muito trabalho, tanto eu como Terezinha, do amanhecer ao anoitecer, mais a rotina da casa e os finais de semana no lar, no clube, na praia, e as férias anuais sagradas. Década de 90 e início dos anos 2000 tranquilos, com poucos problemas, logo resolvidos por nós todos. De novo, para mim, veio o convite (e o ingresso), como primeiro professor contratado, de uma nova faculdade, em Guarapari, a primeira de ensino superior de turismo, em 1990, cuja importância e problemas mais a frente serão comentados. Também surgiu o convite para ingressar no corpo de professores da PM/ES, para lecionar no centro de formação e aperfeiçoamento, em Cariacica, onde estreei como professor de ciência do direito (introdução) no curso de formação de sargentos, no primeiro concurso em mais de vinte anos para esse posto. Foi muito bom, tanto que fui escolhido pelos formandos para ser o paraninfo, o quê, por não ser o habitual (sempre nas forças armadas e auxiliares é o governador - ou o secretário ou um alto posto na hierarquia militar), deu um certo incômodo na formatura, mas que superei com um discurso de improviso de agradecimentos aos formandos, à corporação e às autoridades (governador, comandante-geral, outras) presentes. Por fim, em 92, a CST foi privatizada, e foi oferecido um bônus para quem quisesse sair, e eu, como desejava ficar apenas no campo do ensino (lecionava pelas manhãs, das 7 às 8 e 20 na FAESA, ia para a CST, e de lá ia às noites, dois dias por semana, novamente para a FAESA, mais dois dias para a UVV e um para a Humanas; depois, para a FACTUR/Guarapari, mais as saídas autorizadas da CST para dar aulas na Acadepol e na PM), e já tinha tempo pra aposentar-me e pegar as vantagens da previdência privada da CST, a Funssest, tratei de aceitar esse bônus e sair de lá, ficando com os dias totalmente livres para fazer meus horários, dando aulas ou ficando com Terezinha em casa. Foi um custo convencer a CST a me liberar, mas o consegui. Madeira

sexta-feira, 27 de junho de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1987/88)


Na estrada da vida: uma que parte, outra que chega


1987/88: anos marcados de um lado pela estabilidade readquirida no labor por mim, e por Terezinha estar dominando bem as possibilidades de rejeição e feliz com seu excesso de trabalho (como também era e sou), pois apesar de eu ter brigado (para variar) e saído da prefeitura da Serra, ela continuou lá, na creche de Carapina, pois o seu trabalho era excelente. Os filhos já educados e preparados para viver sua própria vida, sabem muito mais o que fizeram do que eu. Por outro lado, em 87, um fato foi marcante e de muita alegria. Em novembro veio aumentar a família o nosso primeiro neto, uma neta, a Taís, filha de Flavia, fruto do casamento com o Heliomar (triste figura, somente sabido posteriormente). Desde o nascimento Taís encantou a todos. Linda, amiga, decidida (saiu como a avó e a mãe), alegre, e com a separação de Flavia foi a felicidade de nossa casa durante os anos que conosco morou. Vimos Taís crescer demonstrando uma inteligência prodigiosa (atributo familiar) e uma garra incrível, o que até hoje nos mostra diuturnamente. Foi uma benção dos céus ela ter escolhido, enquanto espírito, nosso lar para recebê-la (ela é a musa deste blog, que existe por pedidos incessantes dela). Em 88 ocorreu, com aceitação, mas sempre com alguma tristeza, mas principalmente com a certeza de que, além de ser o destino de todos os encarnados, era o momento, tanto pela idade como pela doença, o falecimento de minha mãe, D. Aracy. No início do ano ela, que vivia em um flat próximo à Usina da Tijuca, com todo o conforto (até o telefone dela foi junto), e que incluía refeições, lavanderia e atendimento médico, ainda ficando com uma renda oriunda de meu pai, teve um derrame e foi removida do flat para o hospital anexo, da Ordem Terceira da Penitência, onde ficou internada, com parte do corpo paralisado. Terezinha e eu estávamos procurando um local em Vitória pra trazê-la e deixá-la próxima a nós, pois morar com a gente era impossível pela quantidade de horas que passávamos fora de casa, e se ela estivesse mais perto nos facilitaria, pois eu ia todo mês ao Rio visitá-la e ver como estava sendo tratada, e se precisava de algo. Antes dessa decisão ela faleceu e eu tive que ir às pressas lá tomar todas as providências. Foi bom, ela estava com 77 anos e deitada numa cama, com outras pessoas fazendo tudo por e para ela. Madeira

quinta-feira, 26 de junho de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1984/1987)




1984/1987: nestes anos a vida transcorreu normalmente, ou seja, enfim morando no mesmo lugar, com os mesmos locais de trabalho, tanto eu como Terezinha, os filhos conseguindo enfim terem relacionamentos, com uma rotina de lar que ainda não tínhamos tido de forma tranquila. Os acontecimentos de cada um dos familiares certamente a partir daqui todos lembram melhor do que eu, pois já eram adultos e têm as próprias impressões, as próprias vivências. Assim estas minhas se aceleram. De 84 ficou bem marcada a reunião de quinze anos de Flavia, que Terezinha, com um senso de família muito arraigado, resolveu fazer no Rio de Janeiro, com a presença de todos os familiares nossos. Com o apoio importante, pois sem esse não teria sido possível realizá-la, da Arminda e do Oswaldo, nossos compadres, foi alugado um salão para cinqüenta pessoas, com jantar incluído, no Clube Naval, e foi muito bom, com a apresentação de toda a nossa turma a todos os familiares, que quase nunca nos viam. Em contrapartida, em 85, os quinze anos da Cintia foram realizados em Vitória, na boite do Hotel da Ilha do Boi, com som e coquetel para jovens, apenas para amigos dela e de Flavia. Nesse período também começou o calvário de nosso carro, um Passat, pois o Caio tirou carteira, o mesmo fizeram aos dezoito anos as meninas e todos o utilizaram e destruíram várias vezes, graças a Deus sem ferimentos carnais, no início da prática diretiva. Terezinha e eu, nas férias, agora sozinhos na maior parte das vezes, passamos a viajar por todo o Brasil e até para o exterior, graças ao direito dela de receber nas férias passagens aéreas da empresa em que trabalhava, a Transbrasil. Assim, nesses anos visitamos todo o Nordeste e alguns países para os quais a Transbrasil voava, como Áustria e Portugal. Na CST, bem prestigiado pelo conhecimento técnico sobre segurança em geral, após ter montado todo a segurança empresarial, estruturei um serviço novo em termos de empresa, que foi uma área de investigação e perícia de danos ao patrimônio, com os peritos e investigadores formados na Acadepol de Minas Gerais, com vagas que consegui através do meu irmão Sidônio, o que deu resultados impressionantes em termos de combate a esses danos e foi copiado por várias outras empresas do ES. Nas faculdades tudo tranquilo, sendo sempre todos os anos paraninfo de alguma turma, como reconhecimento ao trabalho de ensino desenvolvido. Na Acadepol continuava a dar aulas, sempre oficialmente cedido pela CST. Madeira

quarta-feira, 25 de junho de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1983/3)


Até logo: voando para outro plano com a missão cumprida.


1983: Terezinha em jornada dupla, eu em jornada técnica atrapalhada pela política, de dia, e às noites dando aulas nas faculdades; crianças no colégio, finais de semana juntos, até que as coisas estavam parecendo normais para uma família normal. Neste ano descobrimos um paraíso nas montanhas capixabas, que tínhamos começado a conhecer, já que anteriormente não fora possível fazê-lo pela gama de problemas enfrentados. Em setembro, aproveitando o feriado do dia sete, fomos conhecer, hospedando-nos, uma pousada há pouco inaugurada, em Pedra Azul, de nome Pousada dos Pinhos. Lá chegando ficamos maravilhados pelo clima e pelas instalações, mas principalmente pelo tratamento fidalgo dado pelo proprietário, Dr. Julio Pinho (e sua família, em especial pela filha dele, a gerente do novel empreendimento, a Isabella). Alimentação de primeira, e à noite um café colonial suculento; recreação para as crianças, quadra e campo de futebol para as minhas peladas, aquela sauna... Enfim, um local paradisíaco e sem os ruídos da cidade grande. Ficamos clientes permanentes e até a partida de Terezinha passamos todos os feriados espichados lá, em especial Ano Novo e Carnaval. Tínhamos as reservas já feitas automaticamente e no mesmo apto, e a nós se juntavam sempre nossos compadres Arminda e Oswaldo e a afilhada Anna Luiza. Foi de fato algo marcante para todos, inclusive para D. Hilda, que muitas vezes nos acompanhava. Neste ano também transferiu-se de plano meu pai - Seu Dias, como todos o chamavam -, em nossa casa, no então quarto do Caio, onde ele estava hospedado. Foi algo diferente, pois ele tinha muita saúde e com 87 anos, quase 88 (faria um mês após o seu falecimento), foi internado às pressas no Rio, na Beneficência Portuguesa, da qual era associado. Informado do fato por Sidônio, fomos eu e Terezinha ao Rio vê-lo, e lá chegando fomos informados que ele estava com câncer no pulmão, sem capacidade respiratória e necessitava fazer uma traqueotomia para poder respirar e ter uma sobrevida. Após conversarmos entre nós e ouvido o Levy, amigo-irmão, médico de nossa total confiança, falamos com ele e ele disse que ali não queria ficar, e acontecesse o que acontecesse queria ir para a minha casa, pois lá teria, tinha a certeza, uma enfermeira inigualável, que era a Terezinha. De imediato (era um sábado) negociamos a saída dele do hospital para o dia seguinte, domingo (tive que assinar um termo de responsabilidade se houvesse a morte física), e comprei passagens de avião para todos nós e mais a minha mãe e viemos para Vitória, êle de terno e gravata, como sempre muito bem vestido, mas com muita dificuldade de respirar. Chegamos em Vitória cerca de onze horas, e D. Hilda e os netos o receberam com muitas atenções. Sentamos à mesa, com ele à cabeceira, de terno e gravata, como gostava sempre de ficar, no comando, e após isso eu e ele sentamos no balanço na varanda e conversamos até por volta das quatorze horas, quando ele pediu para se deitar um pouco. Perto das dezesseis horas ele chamou Terezinha e avisou que não estava conseguindo respirar. Acionei com urgência vários médicos conhecidos, e estes foram unânimes: ele teria de ser internado e devia ser feita a traqueotomia. Ele negou-se com veemência e quis ficar alí mesmo. Com a orientação já dada pelo Levy, no Rio, pois Levy, quando chamado por mim lá, é que tinha nos dado o aconselhamento de atendê-lo nas vontades, pois ele não tinha mais pulmões, estes estavam todos tomados e era melhor dar qualidade de vida que quantidade, dispensamos os médicos, e foi colocada uma bomba de oxigênio ao lado dele e esta ligada às narinas, para que houvesse menos desconforto. Foi um resto de domingo e uma noite de vigília, até que no dia seguinte, segunda-feira, treze de junho, dia de Santo Antônio, santo português, ele faleceu ao lado de Terezinha e D. Hilda, no momento em que eu tinha saído para comprar uma nova bomba de oxigênio, com Flávia sentada nela para que não corresse dentro do Passat que tínhamos. Na noite desse dia levamos o corpo para o Rio, onde ele foi enterrado no dia seguinte, com a presença de muitos amigos e parentes. Fez o desencarne junto a nós e foi um pouco sofrido pela falta de ar, mas foi por pouco tempo e cheio de nosso carinho e admiração pelas obras que deixou, e pelos exemplos dados continuadamente. Muito obrigado meu pai, por tudo que me ensinastes e me destes. Theo

terça-feira, 24 de junho de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1983/2)


Praia de Nova Almeida


1983: enquanto eu tentava moralizar a administração pública municipal do município da Serra, emprestado pela CST, Terezinha, indômita como era, ansiava por fazer algo mais do que cuidar da casa, para o que ela tinha a Joana e que tinha rodado bem durante todo o período pré-transplante. Começamos então a ver o que ela gostaria e poderia fazer. A esposa do prefeito, do Mottinha, D. Marilda, era a secretária municipal de assistência social, e a convidou para assumir a direção de uma creche problemática em Carapina. Terezinha aceitou, começando a endireitá-la, pois lá sumiam os alimentos para as crianças, funcionários faltavam direto ao trabalho e papeavam em excesso, deixando as crianças abandonadas e até sujas, fora outras mazelas. No meio do ano chegou, transferido de Fortaleza para gerenciar a Transbrasil Linhas Aéreas no Espírito Santo, o Flávio Wanderley, que eu tinha conhecido lá e com ele me relacionado muito bem, inclusive como companheiro de grandes peladas na AABB, e um dia, ao conversar com ele na empresa, disse-me que contrataria pessoas dinâmicas para a área de reservas, para trabalhar em turnos de seis horas corridas, e que se Terezinha o quisesse ela poderia ir para lá. De imediato Terezinha aceitou e passou a trabalhar no setor de reservas da Transbrasil, às tardes (com plantões aos finais de semana), ficando pelas manhãs na creche. Para que os funcionários não relaxassem ela levou para ser vice-diretora a prima, comadre e cunhada Ivone, também muito trabalhadora e honesta. Creio que Terezinha pegou tantas atividades por ânsia de fazer coisas boas e certas, por poder assim agradecer a Deus pelo êxito do transplante, e para não ficar parada pensando na vida (foi lhe lembrado pelos médicos que não poderiam prever a quantidade de vida futura, inclusive por ter recebido um rim de sessenta anos de funcionamento, e pela possibilidade de rejeição em algum momento); e, é óbvio, para podermos assegurar meios financeiros de educar, criar os filhos. A realidade é que ela, com essas atividades todas, estava bem, sentindo-se útil, e enfrentando a ação dos corticóides (eram feitos exames mensais de sangue e urina, com controle rigoroso e doses maciças diárias de remédios, para controle de possíveis elevações da pressão e de alterações da função renal). Nos finais de semana sempre tínhamos um tempinho para as idas à praia (sem que ela tomasse sol) e ao clube, e no inverno alguns pic-nics em locais inusitados, diferentes, descobertos por ela, tais como cachoeiras e passagens baixas de rios, no mais das vezes e quase sempre com Egydio, Ivone e filhos juntos. D. Hilda bem, no vai e vem ao Rio, onde estava o Adelino com seus problemas de saúde. Madeira

segunda-feira, 23 de junho de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1983/1)


No Brasil, a pilantragem sempre rende bons frutos...


1983: mais uma vez mudanças fortes acontecem no meu viver. João Baptista da Motta, conhecido de primeira hora no Espírito Santo, que apoiou-me integralmente na minha chegada aqui e na doença e transplante de Terezinha, resolveu candidatar-se ao cargo de prefeito municipal da Serra, onde havia nascido, na área praiana, em Nova Almeida. Procurou-me e convidou-me para ser secretário municipal de admistração na gestão dele, caso se elegesse, alegando pouco conhecimento de administração pública e a bagunça dessa área na prefeitura, pois lá estava um prefeito populista (um lulinha). Disse-lhe que eu só iria se, vencidas as eleições por ele, eu conseguisse minha liberação oficial da CST, com garantia de meu emprego quando quisesse voltar, por qualquer motivo. Pois ele ganhou as eleições e conseguiu minha liberação, o que foi uma surpresa para mim, pois fui chamado na sala do presidente da companhia, Dr. Arthur Carlos Gerhardt dos Santos, e liberado com documento oficial para tanto. Lá fui eu no início desse ano fazer parte da equipe de governo (muito boa, por sinal), e pegar um pepino imenso para descascar: salários atrasados cinco meses e décimo-terceiro não pago, isto tudo na data de nossa posse, dia 31 de janeiro. Encontrei uma vaca na porta da prefeitura, alugada aquela pela gestão anterior para distribuir leite para os pobres do município (esta foi a menor das aberrações). Fiz a vaca sumir e cancelei essas e todas as demais benesses populistas e demagógicas existentes. O prefeito Mottinha, assim era e é conhecido, se já estava apavorado, pois o antecessor era homem de conluios e suspeito de ações violentas, apavorou-se mais e eu o acalmei, lembrando que era só fazermos as coisas claras e sem maldade, e nada iria nos acontecer de mal. Na época eu dava aulas na FAESA (e continuei), e era conselheiro do CRA/ES (conselho regional de administração no ES), e trouxe para chefiar as cinco seções a mim subordinadas (pessoal, compras, transportes, material e almoxarifado) cinco admnistradores formados, honestos, de confiança. Arrochamos os gastos, com controle de tudo (gasolina, manutenção de viaturas, telefone, licitações, horários de trabalho); enfim, de todos os ralos pelos quais poderia sair o dinheiro, e em conjunto com o secretário da fazenda, um dos homens mais honestos que conheci, Seu Erix, em quatro meses colocamos os vencimentos em dia. Para isto tive de me expor, mas nada aconteceu, porque tudo era feito às claras, sem conchavos, olho no olho. Consegui, através da procuradoria do município, a anulação de um concurso público somente para cargos de nível superior, fajuto (no qual as provas tinham sido levadas para casa pelos inscritos, o que foi provado através dos depoimentos de quem acompanhou o concurso), feito para amigos/parentes do prefeito da época, e mandei demitir quase mil pessoas, fruto de admissões feitas através de carteira de trabalho assinada no dia da eleição (no entanto, pagamos todos os direitos trabalhistas, ou seja, os dias trabalhados, os proporcionais, demissão etc). Nessa brincadeira economizamos com cerca de mil e poucos vencimentos mensais. Foi trabalhoso, mas foi fácil, bastou fazer com que as leis fossem cumpridas. A prefeitura, que tinha mais de 2.500 funcionários, ficou enxuta, rodando direitinho, com pouco menos de 1.500. A partir daí, logo após o meio do ano, contatei o IBAM (instituto brasileiro de assistência aos municípios), órgão técnico de elevado nível, dominador de todas as ações de caráter científico de planejamento e direção municipal, e começamos a trabalhar em uma nova estrutura para a organização local, objetivando torná-la ágil, moderna e inovadora, para diminuir a burocracia e atender melhor os munícipes. Estava indo bem demais para ser verdade. Mais ou menos em outubro fui chamado para uma reunião extra com o prefeito, e lá deu-se a merda. Naquele tempo a legislação não exigia concurso público para o serviço público. Sob a justificativa de facilidade para contratar e também para demitir os incompetentes, os acessos eram por carteira de trabalho assinada e a critério dos prefeitos (só podia dar merda), e as prefeituras, estados e a própria União viraram cabides de emprego, e todas as primeiras viviam com os vencimentos atrasados pelo excesso de pessoal, gente apaniguada dos prefeitos, vereadores e de seus amigos. Essa foi uma grande cagada da Revolução, corrigida na Constituição Federal de 1988. Nessa reunião o Mottinha, após muitos rodeios, explicou-me que não aguentava mais a pressão dos vereadores e do pessoal da campanha dele, e precisava nomear algumas pessoas. Pedi um tempo para terminar a consultoria do IBAM, mas ele disse que não podia dá-lo. De imediato disse-lhe que eu não assinaria nenhuma carteira e que ele me exonerasse para fazê-lo. Ele pediu-me então para eu trocar de cargo e passar a ser coordenador-geral da prefeitura, cargo que consistia em acompanhar os trabalhos das secretarias, assumindo o meu lugar na Administração o sub-secretário, o que topei até pôr a cabeça em ordem. Em 30 de novembro a CST fez o seu start-up e começou a funcionar, a ser uma siderúrgica, e depois de conversar com Terezinha voltei para a CST, onde fui muito bem recebido, pois lá estavam empilhados ene estudos esperando por minha volta, para a nova situação de usina em operação, sem ter mais operários de construção civil em seu interior, somente empregados técnicos. Resumo de um ano como secretário de administração da Serra: em dois meses o novo secretário contratou mais de duas mil indicações políticas, e mais, a frente começou a atrasar os vencimentos de novo e eu perdi mais um amigo, pois nunca mais falei com Mottinha. Mas, mais uma vez não capitulei perante o imoral, o ilegal. Madeira

sexta-feira, 20 de junho de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1982)



1982: ano tranquilo, com a vida de todos em casa entrando nos eixos, e com uma nova formatação, de muito trabalho, mas sem percalços, com uma rotina gostosa de lar, de amor, de crescimento geral. Eu, de segunda à sexta com muito trabalho. Terezinha muito bem, fazendo os controles mensais, com o transplante certinho, apenas todos, médicos, ela, nós todos, preocupados com os efeitos colaterais terríveis dos corticóides, que certamente mostravam-se logo (inchaços), mas sabíamos mostrar-se-iam a médio e longo prazos. As crianças enfim estabilizadas, podendo ter colegas e programas, estudarem no mesmo colégio, sem as mudanças bi-anuais. Joana o esteio de sempre, e também buscando desenvolver-se através de cursos escolhidos por Terezinha e feitos no SENAC. Meus pais e Dona Hilda presenças constantes lá em casa. Enfim, um norte na vida, pois sabíamos onde estávamos e como ficaríamos. Na CST muito trabalho, pois era época de construção civil e montagem da siderúrgica, com uma vila operária onde moraram até sete mil operários, um grande canteiro de obras, e nós da segurança tendo que acompanhar tudo isso e manter a ordem, mas concomitantemente planejando tudo para quando acabassem as obras e a usina começasse a rodar, produzindo aço. À noite aulas na FAESA e na UVV, todos os dias da semana, lecionando administração geral e introdução ao direito. A secretaria de segurança ainda conseguiu com a presidência da CST que eu desse aulas na ACADEPOL, em alguns módulos de alguns cursos, ganhando o suficiente para tocar a vida. Nos finais de semana, sábados de pelada no Álvares, crianças lá, no clube, ou então na praia, com Terezinha na sombra, mas junto, e aos domingos, invariavelmente, churrasco em Manguinhos/Carapebus/outras mansas com Egydio, Ivone e crianças. Tudo sob controle e com muita felicidade e amor. Madeira

quinta-feira, 19 de junho de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1981/3)



1981: como se diz em jargão de mercado de trabalho, as oportunidades laborais só aparecem se você já estiver no mercado. Assim, fui lembrado por algumas pessoas que uma siderúrgica estava sendo construída no município da Serra, e certamente muitas vagas por lá haveriam. Fui à mesma, a CST, Companhia Siderúrgica de Tubarão, multinacional tripartite (Brasil majoritário, com 51%, Itália e Japão) e deixei meu currículo, pleiteando uma vaga na área administrativa (não precisava ser na área da segurança). Logo fui chamado, pois o destino conspirou a meu favor, face ao então chefe da segurança, um major da reserva do EB, ter feito uma cagada e ter mandado um cacete nos peões da construção civil, empregados de empreiteiras. Com isso os sócios resolveram, ainda na fase de construção, reformular a parte da segurança patrimonial, e após um monte de testes, exames e entrevistas fui admitido, em setembro do ano, nas funções de adjunto-técnico, para montar, tanto documental quanto operacionalmente, a segurança patrimonial da CST, além de treinar os integrantes e contatar os órgãos externos de segurança pública. A gerência ficou com um engenheiro mineiro (a totalidade dos técnicos era mineira, oriundos aqueles da Usiminas, usina de reconhecida capacidade técnica em siderurgia), pois estavam desconfiados de segurança na mão de especialistas nessa área, preferindo deixar a decisão final com um paisano. Enfim, agora tinha um emprego fixo, que não dependia de aguardar a distribuição de horas-aulas, com muitas vantagens trabalhistas (condução, refeição, assistência médica, décimo-terceiro... - nunca tinha visto nada disso) e na época ganhando mais do que na PF (isto durou apenas até o fim do governo Figueiredo, que deu um aumento para a PF que mais do que duplicou os vencimentos lá). Bem, como estava só em Vitória e gostava de lecionar, continuei na área, apenas eliminando os cursinhos, que apesar de pagar melhor que as faculdades sugavam muito e não assinavam carteira. O fim do ano se aproximava e tudo começava a clarear de novo, com a devolução da nossa casa (por acaso o inquilino era um engenheiro da CST) e a chegada da família e da mudança (incluindo a cachorra, motivo da briga), e ainda com o direito de ficar recebendo mensalmente, via Adilberto, uma indenização boa, em dez vezes. Se não fosse o Adilberto eu teria perdido muita coisa. Mais um com quem tenho dívidas. Foi um aprendizado e tanto, mas como sempre com pouca utilização, pois enquanto encarnados somos muito curtos e esquecemos rapidamente. Madeira

quarta-feira, 18 de junho de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1981/2)


E tome buzu na cabeça!


1981: parcialmente saído da fria em que tinha me metido e levado junto a família (mais uma cagada, como se erra na vida!), até o fim do ano eu tinha um bom salário lá em Fortaleza, deixado integralmente com Terezinha para as despesas familiares de todos, e cá estava eu em Vitória, tendo de me virar e ganhar meu sustento, além de buscar recuperar o tempo e os empregos perdidos. De início tinha de morar em algum lugar e consegui alugar, no apto de um colega antigo da federal, o papiloscopista Valdir (hoje aposentado e advogando), pessoa doce, tranquila, de minhas relações desde a chegada em Brasília, um quarto com uma cama de solteiro e um pequeno guarda-roupa (voltou a ser como quando saí de casa para Brasília), em um edifício no centro da cidade, na esquina em frente à receita federal, onde funcionava no térreo a eletrônica Yung (hoje não existe mais, está lá a Ricardo Eletro). Com a roupa do corpo e com a cara e a coragem, busquei a Faesa e a UVV e é óbvio que só podia recomeçar no ano seguinte, por já estarem distribuídas as aulas pelos professores que lá estavam. Teria de aguardar até outubro para ver que disciplinas sobrariam, para que eu lecionasse no ano seguinte. Já na Acadepol fui recebido com festa e logo ganhei turmas variadas para lecionar, pois foram realizados concursos públicos recentemente, dada a implantação da polícia de carreira. Consegui também aulas de história e OSPB (disciplina que não existe mais, infelizmente, e que trata do funcionamento do país) nos cursinhos do PROMOVE (grande rede mineira de cursos e escolas de fundamental e médio), no curso Nacional de Vila Velha e no BAC, um cursinho que não existe mais e que funcionava na praça Costa Pereira, no edificio Álvares Cabral, do irmão do dono do Nacional, Solivan Riva(também como o irmão, Sidney Riva, grande estelionatário, ruim para pagar). Já não passaria fome e sobreviveria; apertado, mas daria. Logo depois, com essa rotina, andando de ônibus para cima e para baixo e sendo sugado, pois as aulas no cursinho iam até os sábados e próximo dos vestibulares até os domingos, surgiu uma indicação para lecionar em Colatina, na faculdade de direito de lá, feita por um professor local, diretor da Acadepol, o juiz aposentado Dr. Valdir Vitral, e eu aceitei. Assim, às segundas-feiras eu pegava a kombi da Faculdade, às quatro e meia, e com os demais professores lá chegando jantava; quando retornávamos, chegávamos cerca de uma, duas da manhã em Vitória, e nas sextas íamos no mesmo horário, mas só voltávamos no sábado após o almoço, pois as aulas no fim de semana eram até este dia. Foi ótimo, pelos conhecimentos e amizades que adquiri e pelo dinheirinho que entrou no resto do ano. Muita saudade da esposa, de uma casa, de um lar, dos filhos, mas a culpa era apenas minha e eu tinha era de tocar com coragem e valentia, sem lamúrias e sem preocupar Terezinha. E isso - guerrear - é comigo mesmo. Mais uma vez estava dando certo. Madeira

terça-feira, 17 de junho de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1981/1)


"Usando uma perucona, safado? Então toma!"


1981: instalados em Fortaleza, em uma casa grande e esquisita no bairro Aldeota, iniciamos todos juntos uma nova estapa de vida, agora estranha, pois pela primeira vez na vida profissional eu não era policial, ou seja, não estava sob um juramento oficial, público (e, para mim, principalmente moral) de cumprir a lei e de assegurar que esta fosse cumprida por todos. Terezinha bem e coberta de cuidados pelo pessoal da Coca-Cola (depois concluí que era para me dominar), as crianças ainda meio desnorteadas com tanta mudança, tantas ocorrências em nossa vida nada pacata, e Joana agarrada com a gente. Mudanças mil, mas núcleo familiar unidíssimo. Bem, desta vez (depois entendi) fui enganado e poderia ir muito bem, crescer financeiramente e em prestígio social se fosse a minha cara a nova forma de vida que (após estar lá) me foi oferecida. No início muita babação em cima de mim, tudo fácil, reuniões com figurões da Coca-Cola no Rio de Janeiro, viagem para Atlanta/USA para visita à sede da multinacional Coca-Cola, aproveitando exames completos em um hospital mantido pela empresa sobre o transplante de Terezinha, e que tiveram como resultado um baita elogio ao trabalho dos médicos brasileiros (capixabas), pois todos os comportamentos cirúrgicos feitos estavam irrepreensíveis, congresso brasileiro anual da Coca-Cola em Belo Horizonte, enfim um começo de ano de envaidecer e eu sendo apresentado como o máximo. Reuniões de diretoria da empresa, eu presente palpitando, um dos irmãos do Sérgio Philomeno e sócio era deputado federal e lá fui eu com ele ao congresso nacional em Brasília, sendo apresentado a deputados e senadores. Passados cerca de três meses comecei a descobrir as tramóias, tais como sonegação de impostos, fraudes fiscais, suborno da fiscalização de todos os níveis, violência contra pequenos comerciantes, que eram obrigados a comprar a nossa marca, não podendo comprar concorrentes e um rosário de crimes. Meu papel era dar credibilidade à empresa pelo meu passado, por ser conhecido em Fortaleza como um homem honesto. Entrei em pé de guerra e lembrei que não era a minha especialidade ser safado ou conviver com isso. Botei as cartas na mesa com o Sergio (avisei ao Adilberto) e preparei-me para a briga. De imediato começaram as retaliações: pagamento atrasado, carro velho e quebrado para me atender e agressões verbais nas reuniões mensais da Diretoria. Em uma destas o diretor de comunicação, Venelouis Xavier Pereira, dono também de um jornaleco de imprensa marrom, que eu já sabia vagabundo desde a época da PF, ofendeu-me, isto sentado em minha frente, do outro lado da mesa, ao dizer que eu estava me fazendo de honesto mas que não o era, por ter feito a empresa pagar até o transporte aéreo de minha cachorra (uma verdade, mas tal coisa foi acertada na hora da minha contratação). Voei por cima da mesa, segurei-o pelos cabelos e dei-lhe um murro na cara que lhe quebrou os óculos e cortou-lhe o rosto, espalhando sangue ao redor. Foi o caos, e fui retirado da sala enquanto o levantavam e o socorriam. O gozado é que ninguém sabia (nem eu) que ele usava peruca, pois quando eu o segurei pelos cabelos e mandei o soco, os cabelos dele ficaram na minha mão (por isso não pegou bem e acertou os óculos), e eu sacudi aquela porra nojenta, pensando de início que o tinha escalpelado. Fui para casa e lá fui procurado pelo Adilberto, que queria me esconder por causa de alguma queixa-crime e para que eu escapasse do flagrante. Disse que não iria e que se preso encararia, mas denunciaria tudo o que eu já sabia. O resultado é que foi tudo abafado e ficou acertado que o meu contrato de prestação de serviços, como presidente da Fundação Philomeno Gomes (feito em um documento apropriado, não na carteira de trabaho), seria rescindido, com todos os meus direitos respeitados, inclusive os salários; a casa permaneceria alugada até o final do ano, sem que eu tivesse que trabalhar mais por lá. Com as passagens na mão, acertei com Terezinha - apesar de já ter tido algumas sondagens para ficar em Fortaleza, radicar-me lá - que o melhor era retornar para Vitória, face aos médicos dela, pela nossa casa, pela proximidade do Rio com nossos pais e parentes e a já ter sido o combinado anteriormente. Como nossa casa em Vitória estava alugada por um ano, e nós tínhamos a de Fortaleza assegurada, além de as crianças estarem no colégio, resolvemos que eu viria de imediato para Vitória procurar emprego, voltando logo a dar aulas, e ela e a nossa turminha ficariam lá até o fim do ano letivo. Assim foi feito, e eu voltei antes do meio do ano. Madeira

segunda-feira, 16 de junho de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1980/4)


On the road again!


1980: demissão efetivada, devolvidos brasão, arma e carteira de identidade funcional, ex-delegado de polícia federal, ou seja, mais porra nenhuma, no íntimo contra a vontade, mas em atendimento ao brio pessoal, era agora professor apenas, e mais do que nunca eu tinha de ser o melhor, para assegurar o(s) empregos(s) na FAESA (também chefe do departamento de administração, atualmente coordenador de curso), na UVV, no PROMOVE (colégio e cursinho) e na Acadepol/ES; ou seja, professor full time mesmo, para ganhar bem e sustentar a família, de segunda a sábado, de manhã, de tarde e de noite. Mas acomodamento e cansaço nunca me assustaram ou me fizeram desistir de nada. Recebi alguns convites de trabalho, mas não me agradaram. Um deles foi de ser delegado de polícia no estado (na época não existia polícia de carreira, e bastava ter um padrinho político e ser bacharel em direito que se era nomeado delegado), pois eu tinha todos os cursos de formação, mas não aceitei, pois além de pagar muito mal o nível era muito baixo e a insegurança total, pois bastava prender um parente ou amigo ou até mesmo um conhecido de um deputado ou vereador (ou de um importante qualquer) que se era exonerado de imediato. Eu não duraria uma semana. Outra foi de assumir a diretoria administrativa da Viação Itapemirim (convite feito pelo diretor geral, que tinha sido meu aluno na FAESA, o José Luiz), mas ele comentou que o comendador (gostava de ser chamado assim na empresa) Camilo Cola, dono da mesma, exigia dedicação total, chamando o seu staff muitas vezes de madrugada para falar algo, para viagens inesperadas etc; enfim, entendi que ele, além de dono da empresa, era dono dos diretores e gerentes. Não aceitei, não ia dar certo comigo e minha família já tinha sofrido bastante com meus horários - e eu com a falta deles. Também fui sondado por um aluno da FAESA, um italiano que era um dos proprietários, para ser diretor administrativo da Eliane, fábrica de cerâmicas na Serra, mas não topei. Porém, no final do ano, veio um convite mais forte, tipo casa, comida, roupa lavada e mordomias no Ceará, do dono de toda a franquia da Coca-Cola no Nordeste e ainda no Pará, Sergio Philomeno. Simplesmente eram dele, da Bahia ao Maranhão, todas as fábricas da Coca-Cola e dos outros refris dela, além das distribuidoras. Filho de uma família tradicional, os Philomeno, ele desejava criar uma fundação com o nome do pai, idealizador e fundador desse império com sede em Fortaleza e sabedor, por um então delegado de polícia do Ceará, meu amigo (tinha sido meu agente no DPF, antes), Dr. Adilberto Leite, que era concomitantemente organizador da segurança patrimonial da empresa dele, que eu tinha saído da polícia federal, e mandou uma proposta daquelas irrecusáveis, com excelente salário, sem qualquer despesa de mudança, mais aluguel de casa e carro; enfim, como a de um astro de cinema (com Oscar!), e depois de conversar com Terezinha lá fomos nós, no fim do ano, de mala e cuia, de volta para Fortaleza, eu agora como alto executivo da Coca-Cola do Nordeste. Alugamos nossa casa no ES, eles alugaram uma lá para nós e enquanto a mudança não chegava ficamos em hotéis de luxo, tanto em Vitória (SENAC da Ilha do Boi), como em Fortaleza (Beira-Mar). Mais uma cagada, pois nesse ano especializei-me nelas. Deixava uma vida de lutas, mas radicado na cidade escolhida, na nossa casa, para uma aventura no Nordeste. A única coisa boa nesse ano foi o nascimento da filha de Arminda e de Oswaldo, Anna Luiza, a nós dada como afilhada e que batizamos em um belo domingo de sol, com festa nos jardins da PUC, em um ambiente lindo e agradável, e que me deu de bom uma amizade-irmã e uma aproximação gostosa com Oswaldo, um verdadeiro irmão e amigo ímpar, daqueles de entrega total na amizade. Madeira

sexta-feira, 13 de junho de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1980/3)


Descendo do ônibus e seguindo em frente

1980: punido, ao meu ver injustamente, principalmente por não ter sido ouvido, não ter tido direito de defesa e não terem sido considerados os anos de polícia e a folha de serviços, somente com elogios e comissões importantes, e ameaçado de remoção para lugar inóspito, com Terezinha recém-transplantada e, para maior desilusão minha, com movimentação de greve na PF, coisa que não aceito de jeito nenhum em algumas áreas de serviço, uma delas a policial. Resolvi que bastava de sacrifícios meus e da família, com as mudanças continuadas. Assim, com os brios à flor da pele, vomitando ressentimentos, conversei muito com Terezinha (que ponderava meus anos de serviço e meu amor à causa policial e ao DPF, mas que respeitaria minha decisão e estaria colada comigo) e me mexi. Primeiro, por vergonha de chefiar delegados tendo sido punido, e por entender que era impossível a relação profissional com o superintendente, solicitei minha exoneração do cargo de segundo nível hierárquico da SR (coordenador), dispondo-me a negociar o restante, tal fosse o local de minha remoção e a anulação da minha punição. Concedida a exoneração, face a persistir a idéia da remoção, solicitei licença para tratamento de familiar enfermo, com os devidos atestados médicos, por seis meses (esperava assim que tudo se acalmasse e se resolvesse) - e me foi negada. Notei que estava sendo seguido por agentes do serviço de informações da SR e peguei um, o agente Wanderley, na ladeira da FAESA, e dei-lhe um aperto. Ele se desculpou, pois estava cumprindo ordens. As coisas caminhavam para a minha saída mesmo. Eu ainda tinha uma tentativa para não abandonar a PF, da qual eu tinha sido um dos fundadores, um dos criadores, tendo feito parte da equipe que redigiu o regimento interno, o decreto 56.510/65; enfim, uma instituição a qual tinha me dedicado de corpo e alma, sem nada pedir ou negar a fazer e que à época estava com salários muito defasados. Esses fatos todos foram agravados pela chegada de um delegado de Brasília, enviado pela direção geral para verificar o que estava ocorrendo, e amigo íntimo do superintendente, da turma dele; um vagabundo e mau-caráter de primeira, pois quando eu soube de sua chegada o mesmo já havia se reunido com o superintendente e nem me ouviu, dizendo-me de cara que eu havia errado. Ainda ponderei se não seria melhor haver uma composição, e a resposta foi negativa. Bem, as portas estavam fechadas e restava-me botar o galho dentro, aceitando tudo de cabeça baixa como um criminoso arrependido, ou entrar na justiça e enquanto isso me foder - ou deixar tudo, guardando apenas as boas recordações e a herança dos bons exemplos dados. No dia do aniversário de Terezinha, 17 de setembro do ano, dei entrada no protocolo da SR/ES de documento solicitando a exoneração do cargo público de delegado de polícia federal, anexando ao pedido minha carteira funcional, meu brasão e a arma funcional. A partir daí comecei a dar aulas como um desesperado, pegando turmas também pela manhã, e trabalhando também em colégios e cursinhos aos sabados e domingos (já lecionava na FAESA e na UVV e passei a lecionar nos colégios Positivo e Promove, fora os cursinhos Nacional de Vila Velha e BAC em Vitória), para não faltar com as condições financeiras em casa. Foi tremendamente dolorido, às escondidas de Terezinha chorei muito, mas a decisão foi tomada e pronto. Talvez tenha sido a grande cagada de minha vida, talvez tenha sido apenas fruto de orgulho, mas algo tinha de ser feito e foi. Madeira

quinta-feira, 12 de junho de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1980/2)


Momento de descanso no prédio do DPF/ES, começo da década de 80


1980: Terezinha transplantada renal e de novo com a marca registrada dela, uma alegria e garra contagiantes. Voltamos, com os cuidados necessários para com ela, a um ritmo de vida tranquilo, de estudo e brincadeiras nos finais de semana para as crianças, e de reorganização da casa para Terezinha, apoiada pela Joana, com D. Hilda se desdobrando entre a casa dela no Rio e conosco, e eu rachando entre as atividades policiais e as aulas à noite. Mas as decepções estavam chegando, em função do meu modo de agir (deve é óbvio ter muita coisa errada, é de extremos, ou seja, ou agrado e ganho amigos ou desperto inveja, raiva e levo porrada, ainda mais dentro de uma estrutura de serviço público policial). Como na SR/DPF/ES todos os delegados e agentes só procuravam a mim para orientações, para tirar dúvidas, e como eu, desde o ano passado, estava dando aulas na Acadepol da Polícia Civil do ES - que, aliás, tinha ajudado a remontar, estruturando-a, montando cursos, coordenando-os e dando aulas, em apoio à reabertura da mesma, que estava fechada há mais de dez anos, a pedido de um professor meu colega na FAESA, o juiz aposentado Dr. Valdir Vitral, que fora indicado pelo secretário de segurança pública do ES para o cargo de diretor da academia -, o ciúme do superintendente apareceu forte. Teve início uma brutal centralização dele, tentando capar minhas atribuições de coordenador policial, dificultando minhas ordens, proibindo ações policiais sem conhecimento e autorização dele, o que o regimento interno do DPF não dizia, ou seja, minha competência estava claramente definida e muitas vezes o coordenador não dependia disso para agir. Assim os choques começaram e eu caguei para as ordens dele, continuando a trabalhar, e de novo tirando em nível estatístico a SR/ES de um dos últimos lugares em produtividade (quantidade de flagrantes, inquéritos, número e valores de apreensões) para uma das dez melhores do país. Como obviamente havia os puxa-sacos do superintendente ou aqueles que simplesmente não gostavam de mim, um fosso se fez entre nós dois, o que não podia ter ocorrido e no qual devo, é lógico, ter culpas também. Bem, no início do segundo semestre houve uma operação de combate ao tráfico de drogas, em Manguinhos, toda amarradinha, na qual, face à fuga do traficante, que usava como cobertura levar a mulher e a filha nas entregas, houve um tiroteio no qual a menininha morreu, atingida por um tiro, na ocasião sem se saber se teria sido do traficante ou do nosso pessoal. Avisado, desloquei-me à SR e dei as orientações ao delegado de plantão sobre a lavratura do flagrante, apreensão da droga, apoio às providências junto ao IML e mandei registrar tudo no livro de ocorrências, sabedor de que o superintendente o visava diariamente. No entanto, o plantonista crocodilo telefonou para ele e no domingo cedo este foi à SR e se intrometeu no caso. Daí a uma discussão violenta nossa na segunda-feira foi um passo e, sem que eu o soubesse, ele redigiu e mandou para o boletim de serviço do DPF, na parte reservada às alterações de delegados, uma punição minha de trinta dias de suspensão, além de solicitar minha transferência para outro estado. Passados alguns dias, nos quais não falei com ele, chegou o boletim com a minha punição e o recebi para passar ciente. De imediato pipocaram telefonemas de colegas, de solidariedade, e querendo saber o que havia ocorrido, pois a fama dele não era boa no DPF. Fiquei meio desorientado e soube também que estava para sair uma remoção minha, possivelmente para longe, para o Nordeste, de volta. Tentei falar com o diretor geral, de quem eu tinha sido assessor, e não fui recebido. Falei com o coordenador central policial, segunda autoridade hierárquica, e ele era da panelinha, da turma do superintendente e tirou o cu da reta - e eu só queria que tirassem a suspensão e negociassem a ida para um lugar próximo do ES, por causa de Terezinha, para que ela não ficasse longe da família e dos médicos. Eu pensava em Campos, onde havia uma delegacia do DPF, ou mesmo Niterói ou Rio. Tudo em vão. Ninguém na cúpula me atendia. Tinha mesmo de tomar alguma outra atitude e continuei a conversar com Terezinha sobre o que fazer. Madeira

quarta-feira, 11 de junho de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1980/1)



1980: ano de decisões, com êxitos e com decepções. Êxito da nossa mudança para nossa casa, conquistada totalmente por Terezinha com sua força de vontade, às vésperas do transplante em janeiro e de um êxito maior, o da realização do transplante no dia 19 de janeiro, com D. Hilda doadora e a presença de Egydio e Ivone juntos, apoiando-nos. Levei Terezinha para o Hospital São José às seis horas da manhã, com a operação marcada para às oito e meia (começou às nove), complicadíssima então, porque consistia na retirada de um rim de D. Hilda por uma equipe médica, enquanto ao lado outra equipe preparava (abria espaço) na barriga de Terezinha para a colocação desse rim, que após retirado foi lavado em um preparado especial de limpeza, antes de ser implantado no novo lugar. Os dois rins de Terezinha que não funcionavam ficariam e ficaram nos seus lugares, apenas sem as ligações de artérias, veias e uréter, e o novo seria colocado à frente, lado esquerdo da barriga, em uma cavidade forçada. Os complicadores foram a complexidade das tarefas, a sincronia necessária aos trabalhos operatórios, a multiplicidade das especialidades médicas envolvidas (nefrologistas, urologistas, anestesistas, angiologistas, instrumentistas, enfermeiros) e a pouca experiência das equipes (era o sétimo transplante realizado no ES). Pela primeira vez não fui trabalhar e levei Terezinha, ficando junto a ela até a entrada no centro cirúrgico, e depois sentei-me em uma escada, na rota do caminho da maca dela, para esperar o término da operação, em um misto de recordações da nossa vida juntos e soluços e lágrimas incontidas, acrescidos de muitas orações (ou seja, esperançoso, triste pelas dificuldades dela e todo cagado...). O que faria sem ela e com três filhos pequenos? Lembrava dos apertos que meu pai tinha passado quando tinha ficado viúvo e aí rezava mais e mais. Só me restava confiar em Deus e assim foi que esperei. Foram sete horas e meia de espera, de angústia e de confiança em Deus. Às quatro e meia horas da tarde passou Terezinha na maca, com o indefectível soro, apagada mas viva, e transplantada. D. Hilda passara por volta de uma hora da tarde. Ambas foram, por segurança, para a UTI, e eu pude enfim comer algo, agradecer a Deus pelo sucesso, agradecer também aos médicos e saber detalhes da operação. Aí soube que nas ligações das artérias e veias ao novo rim, um dos angilogistas, o Dr. Monteiro, havia perdido, deixado escapar uma veia e o sangue jorrou longe, e êle apavorado começou a sapatear e a gritar, sendo então auxiliado pelo outro angiologista, o Dr. Sandri, que recuperou a veia e a operação continuou sem mais problemas. Algo que nunca contei a Terezinha aqui vou relatar: enquanto esperava a saída dela da sala de operações, morreu lá uma pessoa que estava sendo operada não sei de quê, e o corpo passou por mim em uma maca, já todo enrolado, como uma múmia. Nessa hora as orações e o cagaço aumentaram consideravelmente. O transplante tinha dado certo, mas ainda restaram as preocupações, pois Terezinha só podia ir para casa quando o nível de creatinina estivesse estabilizado, o que seria o sinal do organismo de que estava tudo funcionando bem, que o novo rim estava dando conta do recado. Foram mais vinte e três dias de internação dela, com visitas restritas e só possíveis com vestimenta e máscara apropriadas, e nas quais mais uma vez a solidariedade e a entrega do Egydio e da Ivone foram imensas, além, é óbvio, das orações dos demais parentes e amigos, em especial da madrinha dela, D. Arlete, e de Arminda. De dia eu cuidava das crianças, deixando-as com Joana na praia (eram férias) ou no clube, o Álvares, até o almoço; depois ia para o trabalho, recolhia-os à casa de tarde e deixava-os em alguma pracinha com Joana (esta um esteio) ou em casa, e de novo trabalho, com idas rápidas para ver Terezinha, que estava em um sistema de isolamento para prevenir alguma infecção hospitalar que levasse à rejeição. Foi foda, mas nos uniu a todos mais e mais. Nosso aniversário de casamento foi sem comemorações, mas alegre porque ela estava viva e em recuperação. Nem um beijo houve, pois só podia vê-la de máscara hospitalar. Enfim, com doses maciças de corticóide, as possibilidades de rejeição foram eliminadas e Terezinha pôde voltar para casa quase um mês depois da operação, para aos poucos, com algumas restrições iniciais e exames de sangue semanais de controle, retornar à vida normal. Madeira

segunda-feira, 9 de junho de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1979/3)



1979: Terezinha enfraquecia a olhos vistos, pelo desgaste da doença, pela má alimentação, pela ausência de líquidos e pelo sacrifício da hemodiálise, mas continuava resistindo à idéia do transplante, apesar dos apelos de D. Hilda, decidida a ser a doadora, em um gesto de mãe. Telefonei para Fortaleza escondido de Terezinha e conversei com o Ismael, irmão único dela, sobre êle ser o doador, não só por ser mais compatível, mas também para não sacrificar a D. Hilda, em função de seus sessenta anos - fora que tal idade representava um rim mais vulnerável. Ismael se amarrou, ficou na dele e nunca mais atendeu telefonemas meus, numa clara resposta de que não era a doação um desejo seu. Conversei com os médicos sobre ser eu o doador e isto não seria possível, pois além de a compatibilidade ser uma exigência, havia a adequada opção pelo órgão de D. Hilda. O ano correu célere, com muitas aulas à noite e muito trabalho na SR, ainda bem que sem viagens a serviço. Os delegados, pela proximidade com o Rio, eram quase todos optantes, velhos, sem base de estudo, sem garra, acomodados, e eu os arrochando de todas as formas para produzirem. A SR começou a dar resultados, apesar de um superintendente desinteressado de êxitos, interessado apenas nas mordomias do cargo. Logo começamos a nos atritar, pois eu queria resolver tudo bem e rápido, e êle queria centralizar, para ver que frutos colheria em seu benefício. Além disso, esse sujeito possuía uma família complicada, que queria ser paparicada, e eu nunca puxei o saco alheio, pois é ou não é - e êle não era. Para complicar estourou um conflito entre Egydio e Ivone, e ela apareceu lá em casa no meio do ano, com os filhos, de mudança, querendo deixá-lo (moravam em Lorena, onde já tínhamos passado umas férias com eles); nós a acolhemos, nos apertamos, liguei para êle e nos acertamos, os dois (Terezinha foi definitiva, pois era a única pessoa que o Egydio escutava e - posso dizer mesmo - temia); arranjei a transferência dele para o ES, um apto para êles morarem e um cargo de chefia na minha coordenação. Com isso, voltamos a conviver profundamente, e nos fins de semana já estávamos todos juntos. Terezinha no final do ano já sofria de um cansaço muito grande e não conseguia mais andar muito (cansava-se logo, ficava ofegante e perto de cair), nem subir e descer as escadas do apto para ir até a hemo. Conseqüência: descia e subia as escadas no meu colo (eu estava no auge da forma física, cheio de gás e muito impulsionado pela raça dela, por seu exemplo). No final do ano, enfim, Terezinha concluiu que fazia o transplante a partir da doação de D. Hilda ou morreria, e concordou com a cirurgia. Iniciaram-se os exames dela e de D. Hilda e ficou marcado para janeiro o transplante com a equipe que a estava acompanhando desde o início do problema renal. Muitas pessoas, tais como o então superintendente do INAMPS, órgão de saúde e aposentadoria dos funcionários públicos, precursor do INSS, opinaram para ela fazer a operação no Rio ou em SP, mas Terezinha não quis deixar a equipe, a proximidade do lar, a nós, e preferiu fazer no hospital São José, do urologista Dr. Fabio Pereira, também da equipe médica. Antes de operar me disse que gostaria de se fixar cá no ES, e aqui comprar uma casa para nós. Ela se fixou em um bairro aprazível, perto do DPF, sem saída, e como sempre quando os mentores dizem amém, tudo se consegue, e em menos de três meses ela encontrou a casa que queria; então, negociou pessoalmente com os proprietários (e construtores) Sérgio e Álvara, que foram muito gentís e acelerados (queriam o dinheiro para a construção de uma casa em um bairro chique, o Mata da Praia). Com o auxílio do cargo, é óbvio, acelerei tudo na Caixa Econômica Federal, e antes do fim do ano estávamos com o contrato assinado de compra e venda, em dez anos, da casa número 40 da avenida Nossa Senhora das Graças, no Bairro de Lourdes, restando apenas acertar a data da mudança. Madeira

vivencias-madeira-cronológica (l979/2)



1979: diagnosticada a doença renal de Terezinha e indicada pelos nefrologistas do Hospital São José (dr. Delson, aquele em que Terezinha mais confiava; dr. Pio, o professor constituidor da equipe; dr. Lauro; e dr. Soriano), como única saída médica, o transplante renal, técnica nova, em especial no ES, onde só haviam sido feitos três transplantes renais, foi também informado que para dar certo deveria ser o rim doação de irmão, em primeiro lugar, e depois de pais. Instalou-se então o problema, pois Terezinha não aceitava a doação de ser vivo, por entender que estar-se-ia mutilando a pessoa doadora. Doação de rim de cadáver estava em fase bem inicial de estudos e não havia legislação a respeito. De terceiros, mesmo com as compatibilidades necessárias, não haveria a segurança de dar certo. Assim, a partir do segundo mês de Vitória, já com a presença constante de Dona Hilda, tivemos muitas conversas sobre o assunto e sua solução, sempre privilegiando e apoiando a decisão de Terezinha, ou seja, fazendo o que e como ela quisesse. Já em diálise venal - pelo braço esquerdo, com a molinha funcionando no pulso desde março -, todas as segundas, quartas e sextas eu a levava para o hospital por volta das sete e meia da manhã, depois de dar o café para as crianças e deixá-las na escola, e esperava ela ser ligada à aparelhagem (não tão moderna como a de hoje); depois ia para o trabalho na PF, com pepinos mil, e às onze e meia saía, pegava as crianças no colégio, deixava-as em casa com Joana e Dona Hilda para o almoço e ia buscar Terezinha. Era uma guerra, não pelos esforços, mas pela correria. Eu a via corajosa, sem nenhuma reclamação, só desejando ficar boa, fazendo tudo o que era mandado pelos médicos, tendo de beber, mesmo com calor, com sede, pouquíssimo líquido e com uma alimentação absolutamente sem sal. Terezinha não parava de lutar contra a doença, e dia e noite pensava em como ficar boa sem o transplante. Com isto tentamos de tudo, e deixando Dona Hilda com as crianças saíamos eu e ela, em vários finais de semana a partir de sexta à tarde, quando ela deixava o hospital, a procurar soluções (mesmo milagrosas) e outros pareceres. Sempre com todas as radiografias e exames feitos, fomos ao Rio, ao maior nefrologista do Brasil, o dr. José Henrique, em uma clínica na Gávea; ao Levy, na época no hospital da Marinha, como oficial-médico; fomos também a inúmeros centros espíritas, como o que Dona Arlete, madrinha de Terezinha e mãe de Arminda, freqüentava na Praça Mauá, ela que inclusive arranjou também um encontro de Terezinha com Chico Xavier, na Fundação Marieta Gaio, na Tijuca; fomos à Casa Espírita Cristã do IBES, onde um médium cego psicografava, o Julinho (local que hoje freqüento toda segunda-feira); e à outras igualmente sérias. Fomos também a vários milagreiros, como o Zé Arigó, em um encontro em Recife/PE; a Porto das Caixas, em Itaboraí, perto do Rio de Janeiro, onde um padre fazia milagres: à Cobilândia, onde um ex-padre, paralítico, atendia deitado e também fazia milagres; no Rio fomos ainda ao dr. Fritz, que atendia no Curtume Carioca, em Olaria; estes os lugares de que me lembro. Os sérios desta área sempre diziam o mesmo, que era coisa corpórea e que ela deveria fazer o transplante. Os vigaristas receitavam garrafadas, que de início até que Terezinha tomou, dentro da cota mínima de líquido que podia ingerir, mas inteligente como era logo abandonava. Com isto, o meu salário não dava para vivermos, e passei a dar aulas à noite (para fazer frente às novas despesas) em duas faculdades, indicado e levado pelo Mottinha: a Faesa e a UVV. A seleção foi mole, face às minhas formações e ao meu currículo. À época, para dar aulas, precisava-se da aprovação da delegacia do MEC, que existia em todos os estados (o MEC burramente as extinguiu, e hoje não existe nenhuma fiscalização sobre o ensino superior nos estados, a não ser quando são pedidas comissões de autorização ou reconhecimento), aprovação que recebi para qualquer disciplina das áreas de minha formação, direito, administração e ciências sociais. Agora nem as noites mais eu tinha livre, e Dona Hilda e Joana tocavam o barco nos dias úteis, ficando os finais de semana, quando eu não fazia as viagens de desespero com Terezinha, livres para os filhos. Então, enquanto Terezinha ficava em casa com elas (Dona Hilda e Joana), eu ia com os três para a praia ou para o clube, o Álvares. Madeira

sexta-feira, 6 de junho de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1979/1)


Tempo fechando no Espírito Santo


1979: ano complicado, bem complicado. Com um apto de três quartos pequenos e dependências alugado em Bento Ferreira, em um edifício simpático - com uma vaga de garagem que me obrigava a tirar o carro que às vezes trancava ou era trancado por outros carros - que eu tinha deixado alugado e arrumado em janeiro, quando vim só com Terezinha fazê-lo, chegamos todos (eu, Terezinha, crianças e Joana) de avião à Vitória, ao anoitecer de uma sexta feira, no início do mês de fevereiro, para na segunda eu me apresentar e começar a trabalhar. Já sabia que ia ter muito trabalho, pois - como nas outras comissões, à exceção da SR/Ceará - eu só pegava boca-podre, locais desorganizados e cheios de vícios, e a SR/ES era assim marcada (antes de vir tinha estado no CI/DPF e levantado os dados e informações sobre a SR e seus componentes). Mas desta vez a coisa seria, e foi, muito mais difícil - neste ano em especial. Desembarcamos às dezoito horas, e depois daquela euforia de todos do reconhecimento do novo lar, Terezinha começou a passar mal, muito mal, com falta de ar e inchaço nas pernas. Graças a Deus eu tinha alguns nomes de pessoas para contato, e já as tinha procurado e conhecido quando viera com Terezinha conhecer a cidade, alugar apto e montá-lo, e uma delas foi especial (com a qual, infelizmente, perdi o contato; mas ainda vou retomá-lo), o João Baptista Motta (o Mottinha), que havia sido técnico de censura contratado do DPF e de lá já tinha saído, tornando-se um grande empresário capixaba. Gentil, amigo de entregar-se, de doar-se, telefonei-lhe de imediato, pois não conhecia ninguém nem nada e logo ele apareceu lá em casa com um médico amigo, o dr. Alair (que anos depois trabalhou comigo na CST), por sinal irmão de um ex-cabo da GEB, Diomedes, meu peixe. Alair recomedou internação imediata e levou-nos para a Santa Casa, em uma ladeira no centro de Vitória, e convocou para atender Terezinha um amigo médico, então secretário de saúde do estado, o dr. Gélio (ou nome parecido). Resultado: Terezinha estava com pressão 22x20, bastante inchada, fruto da retenção de líquidos, e tomou doses cavalares (injetáveis) de remédio para retirar o excesso de água, e ainda remédios para baixar a pressão. Foi convocado, para examiná-la, o papa do cardiologismo no ES (nada como ter um cargo de importância), o professor-doutor Victor Murad, que diagnosticou um problema renal. Com isto passamos a noite inteira lá, e na segunda-feira tínhamos uma consulta marcada no hospital São José, também no centro da cidade, atrás do Parque Moscoso, que então disputava com o hospital Evangélico de Vila Velha os primeiros estudos sobre problemas renais e sua solução definitiva, o transplante. Um domingo de Terezinha deitada, de repouso e tomando remédios para pressão, sem poder beber líquidos. Mas o trabalho esperava por mim e na segunda-feira, antes de levar Terezinha ao hospital, apresentei-me, tomei posse e marquei uma reunião geral pras quatorze horas, conhecendo assim a equipe e começando a implantar a minha filosofia de trabalho. Ainda bem que era época de férias e já havíamos escolhido o colégio, a cem metros do apto, o Martim Lutero, tido como um dos melhores de Vitória. E, melhor ainda, tínhamos a Joana, que com o aprendido com Terezinha e muita garra tocava tudo com perfeição, dando-nos tranquilidade para encarar o que viesse. Ainda bem que as crianças a entendiam e colaboravam. Exames feitos disseram que Terezinha estava com os rins comprometidos, causa genética, de nascimento, com um já sem função renal, do tamanho de um figo murcho, e outro quase, com pouca funcionalidade, e que a saída seria um transplante renal. Enquanto isto ela teria de ficar na hemodiálise, ou seja, ligada dia sim, dia não à máquina purificadora, que mecanicamente retirava todo o sangue, limpava-o das impurezas e devolvia-o ao corpo, efetuando o trabalho que os rins deveriam fazer. Mas no primeiro mês, por motivos médicos, esta ação teria de ser feita pelo abdomen, através da hemodiálise peritonial, enquanto instalariam no pulso dela um chante (acho que é este o nome), um aparelhinho que forçava o sangue a circular com mais força na região do braço, por onde seria feita a hemo. Eu, que sou muito forte pra tudo, inclusive pra doenças minhas, sou fraquíssimo pra males, doenças ao meu redor, ainda mais de pessoas que amo. A tal de peritonial (saí da sala quando começaram) consistiu em, com um tipo de saca-rolhas, furar a barriga de Terezinha e lá introduzir uma sonda, retirando o excesso de líquido. Foi foda e Terezinha sem reclamar, como a admirei e admiro. Foi um ano em que ela amadureceu (muitas vezes pensando sozinha, outras em longas conversas comigo) a decisão do transplante e o nosso futuro. Madeira

quarta-feira, 4 de junho de 2008

vivencias-madeira-cronologica (1978)


Estudos e começo da grande luta


1978: grande parte do ano passei na academia nacional, fazendo o curso superior de polícia, último curso policial, o de mais alto nível. Foram quase oito meses de aulas ministradas por professores de grande gabarito, todos de fora da PF, de ministros de Estado e embaixadores à sociólogos e filósofos, pois o curso não era de polícia e sim de altos estudos sobre segurança e políticas de desenvolvimento nacional. Este curso era do nível da ESG (escola superior de guerra), e devia propiciar uma visão global do país e do mundo em todos os campos, dando aos delegados de polícia a capacidade de planejamento estratégico não mais no campo policial, mas na esfera nacional da estratégia política, de desenvolvimento do Brasil diante das conjunturas brasileira e internacional. Era recheado de pesquisas, trabalhos de campo e visitas a órgãos públicos e empresas privadas de importância em todos os cenários. Foi excelente e de muita valia. Terminado o curso, para variar, fiquei em terceiro lugar entre os quarenta delegados mais antigos, e como eu completava os dois anos de praxe, lá teria eu de ir para outra comissão, em outro estado, agora no ápice da carreira, mas já bastante queimado, conhecido por querer tudo certinho, por não aceitar as ordens recebidas sem questionar. Paralelamente a isto teve início o calvário de Terezinha. Surgiu um problema de pressão alta e nada era encontrado nos exames cardiológicos, ficando ela a tomar remédios e a controlar a pressão, sem causa conhecida. Com isto, e não havendo nenhuma superintendência vaga ou indicação para tal cargo, e tendo de escolher um estado para trabalhar, sendo o segundo homem na hierarquia de qualquer lugar para o qual fosse, dado o meu cargo e minha antiguidade, escolhi - com a anuência de Terezinha e por orientação médica, pois alegaram que a pressão alta poderia ser causada pela altitude de Brasília - o Espírito Santo para atuar como coordenador regional policial. Assim ficaríamos no nível do mar e próximos do Rio, onde estavam os nossos familiares. Aqui eu iria encontrar como superintendente (e o sabia, mas não me atemorizei - afinal, a saúde dela era o mais importante) um delegado da velha guarda, oriundo da polícia civil de Brasília, velho conhecido pela incompetência e, segundo boatos, também pela desonestidade - e, além de tudo, surdo como uma porta. Vim com Terezinha no final do ano, de carro, conhecer Vitória e escolher um lugar para morar, preparando-nos para, passadas as férias de janeiro (como sempre, no Rio), fazermos a mudança definitiva - um novo ciclo, um novo lugar. Madeira

vivencias-madeira-cronológica (1977)



1977: ano que passou quase idêntico ao anterior. Muitas viagens pela ANP dando cursos-volantes para as polícias estaduais, muitas aulas na própria ANP e alguns pareceres na assessoria geral do DPF, inclusive para o ministério da justiça (naquele que creio o principal deles, negava, embasadamente, a solicitação da polícia rodoviária federal - que havia acabado de passar para o MJ - para proceder os inquéritos e flagrantes de ocorrências nas estradas federais, deixando de levá-los para a polícia judiciária da União, que era e é o DPF). Além disto, terminei o curso de administração, juntando-o aos demais diplomas de nível superior. A novidade foi, face às aulas dados nos cursos-volantes (com o acompanhamento dos instrutores do DEA - drug enforcement administration -, órgão policial federal dos USA responsável pelo combate às drogas), ter sido convidado a fazer um curso de especialização (uma pós-graduação, pois era privativa de policiais de nível superior)em prevenção e repressão às drogas. Com isto, foram cerca de cinco meses, entre abril e setembro do ano, que passei em Washington (quatro meses) e Nova Yorque (um mês), estudando o dia inteiro todos os tipos de drogas e as técnicas de investigação policial de combate às mesmas. Interessante a metodologia americana, que incluía diariamente, após um tempo mínimo de aula teórica, expositiva, o estudo de casos reais que nos forçavam a aplicar o aprendido, estudo este depois checado com o resultado real. Éramos cerca de quarenta policiais de todo o mundo, sendo cinco os delegados brasileiros. Em todos os estudos de caso feitos a maior média de acertos sempre foi nossa, dos brasileiros (pelo problema da língua éramos aglutinados), e nos foi dito ainda - pelos tradutores - que isto era o comum em todos os cursos, ou seja, os brasileiros como os melhores. O curso teve ainda prática de rua e visita aos organismos policiais federais americano como o FBI e outras agências (crimes contra o Tesouro, crimes contra a saúde pública, controle de imigração - esta a mais bem equipada, pois os imigrantes ilegais eram, segundo os americanos, o maior problema que enfrentavam). Lá alugamos, em duplas (ficamos eu e um colega, o Máximo), apartamentos de temporada, quitinetes compostas de um quarto amplo com duas camas de solteiro, e que incluíam roupa de cama e banho trocada semanalmente, quando também era realizada uma faxina. No canto ficava a cozinha, e ao lado, única parte em separado, um banheiro com chuveiro, banheira, vaso e pia. Lavagem de roupa no térreo, na lavanderia geral do prédio, com um sistema de fichas para usar as máquinas de vários tamanhos, de acordo com a quantidade levada. Como os estudos ocupavam o dia todo, tratávamos de aproveitar os finais de semana para conhecer tudo ao redor, indo aos monumentos e lugares famosos (por exemplo, Casa Branca e Capitólio em Washington, Empire State - ainda não haviam construído as torres gêmeas, que fui conhecer mais tarde com Terezinha -, Radio City e Broadway em NY) e vendo o soccer, que estava começando a fazer sucesso (pós-Pelé). Depois do curso, retorno à Brasília para as mesmas atividades, tocando também a ADPF (nossa associação de delegados). Enfim, bastante trabalho pelo crescimento do DPF e muito amor familiar. Madeira

terça-feira, 3 de junho de 2008

vivencias-madeira-cronológico (1976/2)


"Mexe comigo não, nojento!"


1976: assumi as funções de assessor da direção geral do DPF para assuntos de ensino, e logo me queimava definitivamente com o diretor geral, pois em uma conversa com ele discutimos por pontos de vista divergentes e eu lhe disse que ele não era da casa, não entendia de polícia, que iria (ele) embora um dia e eu permaneceria (no fim deu-se o contrário, eu é que saí, em 1980). A discussão ocorreu, entre outras coisas, pelo fato de o DPF ter ganho da justiça federal dois aviões apreendidos, que eram pilotados por pessoal da FAB, e o Moacyr Coelho os estava dando para a própria FAB, alegando que o DPF não precisaria deles, já que era descentralizado e se precisasse de algo do tipo faria então a solicitação. Pelo fato, vê-se que era uma besta (já falecida, mas uma besta). Nesta discussão chegamos aos berros, e o agente de segurança dele, que tinha sido meu soldado (o Isvami Vieira), entrou correndo na sala - o que foi bom, ou eu teria enfiado a mão em seus cornos. Daí em diante, apesar de ter minha sala ao lado da dele (éramos três assessores chefiados pelo assessor geral, um general da reserva bem banana, nem lembro o nome dele), passei a ficar direto na academia nacional de polícia, ajudando nos concursos (que se multiplicavam), na montagem dos cursos e em aulas, o que me satisfazia e fazia com que eu não respirasse o ar fétido - pela pobreza de idéias e de ideais - reinante na direção geral. O Moacyr Coelho fez a carreira toda no SNI e era homem de papel, de gabinete, de fofoca, de ficar na escuridão, e foi o principal responsável por minha saída do DPF mais à frente. Eu já ia direto para a ANP e ele não se importava, até porque eu era assessor para a área de ensino e assim não nos cruzaríamos. Afinal, eu era um dos delegados mais antigos e respeitados do departamento, cheio de elogios, e tinha acabado de colaborar (inclusive redigindo a minuta do estatuto e do regimento interno) na criação da associação dos delegados de polícia federal - ADPF -, ainda hoje existente e fortíssima ma defesa dos interesses da categoria, sendo eleito o segundo na hierarquia da mesma e seu executivo principal para o exercício do cargo de secretário geral. O presidente eleito havia sido um colega de turma, excelente delegado, o Anselmo Jarbas Muniz Freire (logo depois morto no Rio de Janeiro, em frente à favela da Rocinha, em um tiroteio com um bandido, o Niltinho do Pó, que tentou assaltá-lo), e esta era uma função mais social, de representação, de que eu não gostava e não gosto. As ações na ANP levavam-me à viagens constantes pelo Brasil, tanto para aplicar concursos quanto para dar aulas em cursos volantes pagos pelo DEA/USA, de treinamento para as polícias estaduais (para oficiais das PM´s e delegados das civis) na área de combate ao tráfico de drogas. Como cúpula eu escolhia, e aí fiz um revezamento de capitais onde trabalhar, com isto conhecendo o Brasil todo - e com as mordomias de ter um agente local levando-me e mostrando-me tudo. Nestas viagens sempre levei comigo o Altamir Balbino, velho companheiro, parceiro de fé e instrutor de primeira, que era o responsável pela montagem dos exercícios práticos de vigilância e apreensão de drogas. Terezinha e as crianças muito bem, estas pela primeira vez no ensino público, pois recebemos um apto funcional para morarmos em uma quadra da SQN 302, que era para cargos comissionados de alto nível, e nela havia uma escola pública também de alto nível (o apto comprado para casarmos era pequeno, com apenas dois quartos, e foi vendido quando fomos para Curitiba). Volta ao Minas-Brasília, às indefectíveis peladas - jogando no time de campo aos sábados à tarde e no de salão durante a semana, neste disputando o campeonato da cidade, onde chegamos a ser campeões do DF -, aos encontros com Egydio, Ivone e crianças, com almoços dominicais e apoio aos meus quando eu viajava. Enfim, com a exceção do mal-estar com a cúpula do DPF, tudo muito bom e gostoso. Madeira

segunda-feira, 2 de junho de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1976/1)


"Vamu botá as criança nu carro, juntá as tralha tudo i si mandá de volta pru meiu du Brasil-sil-sil!!"


1976: superintendência ajustada, rodando certinha, eu acompanhando todas as atividades (mas mantendo a descentralização, efetuando a função administrativa de controle) - ou seja, aparecendo na SR em horários incertos nos finais de semana ou à noite, rodando nos dias de expediente as seções e prédios, verificando o andamento dos trabalhos - e aplicando os princípios da administração científica, sem deixar de ser policial. Algumas áreas de atrito surgindo, pois delegados novos, formados na ANP, assumiam seus postos, dentro da filosofia da Revolução de evitar fortes ligações com o local onde fossem servir, e contrariavam vários interesses regionais. Não havia a possibilidade, então, de quebra-galhos, de favores e reclamações em Brasília. Mas a Revolução já estava se enfraquecendo, tanto face à derrota dos criminosos que seqüestravam e assaltavam quanto pelo paternalismo próprio do povo brasileiro. Os subversivos não violentos, em um plano muito bem traçado que dá frutos até hoje (e cada vez mais), agrupados na Igreja Católica, nas universidades federais e principalmente na imprensa (todo falso intelectual é de esquerda), levantando a bandeira da democracia, de governo do povo, de ouvir o povo, já incitavam a opinião pública - aquela mesma que tinha ido para as ruas pedir a ação militar contra a baderna -, pedindo a redemocratização, como se houvesse uma ditadura (na realidade era um governo forte; ditadura foi a de Stalin e é a de Fidel Castro, ambas com pena de morte, sem a presença da justiça e outras violências inomináveis). Democracia que em verdade era o seu (deles) instrumento para enganar o povo e se manter no poder. Com isto, mais uma vez comecei a ter problemas com políticos desonestos e gente importante da sociedade, problemas que chegaram ao ápice com um figurão tentando negar-se a ser inquirido em um inquérito da SR. O delegado titular do inquérito tremeu e fui chamado à sua sala (aí errei, era problema dele, e eu devia apenas fazê-lo ser policial sem ter medo de nada nem de ninguém). Fui lá e enquadrei o tal figurão e também o delegado. A partir daí começaram as fofocas e até cartas anônimas contra mim. Caguei e continuei meu trabalho, mas no meio do ano atingi os dois anos de comando - e era de praxe ficar apenas dois anos em cada unidade, para evitar maiores ligações regionais - e fui promovido a assessor da direção-geral do DPF, onde já estava como diretor geral (numa clara demonstração do então menor prestígio da polícia federal, que estava incomodando) um coronel da reserva, o Moacyr Coelho, com quem eu tive sérios atritos, visto a sua postura subserviente. Mais uma mudança, voltando para Brasília, para a alta esfera do DPF. Família de acordo, pois sabia que seria por dois anos a estada em qualquer lugar. Transferi a faculdade de administração para o CEUB, onde já tinha feito o curso de história, e rachamos de volta. Madeira

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