"Ando devagar/porque já tive pressa..."

"Ando devagar/porque já tive pressa..."
"Nessa loooonga estraaaaada da viiidaaa..."

Blog destinado a narrar as vivências do autor, através de suas opiniões sobre fatos vividos, e de marcações cronológicas, objetivando deixar para descendentes e amigos suas impressões sobre passagens de sua vida, abrangendo pessoas com sd quais se relacionou e instituições em que laborou, tudo com a visão particular, própria de todo ser humano, individualizada, pois cada pessoa tem sua forma de pensar, ser e viver. Madeira

sexta-feira, 11 de abril de 2008

vivencias-madeira-cronologica (1957/4)


Carnaval de rua na Guanabara - foliões na Avenida Rio Branco - 1957


1957: o campeonato carioca deste ano deu-me um forte embasamento para conhecer muito de futebol, de gente e de compromissos. Com dezessete anos eu já tinha responsabilidade de horários rigorosos para estudar, me divertir, namorar e um compromisso assinado de defender a bandeira de um clube, cumprindo determinações e horários e me esforçando para seguir as orientações de um técnico (tinha tudo isso no Confiança, mas limitado a um bairro), e agora com uma exposição muito nova e grandiosa. Por muitas semanas era exposto e comentado publicamente pelos colegas de colégio e do bairro, pelas atuações vistas ao vivo pela TV, nos jogos contra times de ponta: Fluminense, Flamengo, Vasco, Botafogo, América e Bangu. Nosso treinador era um ex-lateral direito do Bangu, o Mendonça, com a carreira abreviada ao quebrar a perna direita em um clássico no Maraca contra o Botafogo, e era bem bronco, mas boleiro. Ele mesmo me treinava e, nos dias de individual, ficava o tempo todo comigo e usava um sistema interessante, que eu nunca havia visto e acho que não existe atualmente: antes de treinar no gol o de sempre (saídas em cruzamentos, chutes de todos os lados, faltas e penaltis, rasteiros e altos), ele batia bola comigo em um canto do campo, primeiro com uma bola de borracha que quicava muito e era difícil de agarrar, e depois com uma bola medicinal, daquelas pesadíssimas, e me matava com isso. Pelo nível de instrução acabei, como em todos os times nos quais joguei, sendo o homem de confiança dele, que me batizou de Russo por eu ser louro e ele não conseguir falar Theotônio. Não fui capitão do time por ele achar que eu ficava longe do jogo, já que estava no gol. Tínhamos um bom time que não deu vexame, ganhando praticamente de todos os pequenos e fazendo jogo duro com os grandes, com derrotas apertadas e uma vitória marcante contra o América, considerado o melhor time juvenil do ano, por 4x3, na inauguração do nosso estádio em Kosmos. Acabamos o campeonato no sétimo lugar, o que equivaleu a ser o melhor dos pequenos. O mais difícil na concentração em Kosmos era ter de dividir a carne do almoço com o imenso e feroz cachorro do dono da pensão onde almoçávamos aos sábados e domingos. O bicho não tinha uma cara boa e era uma fera, sempre rondando - e se não déssemos carne a ele provavelmente seríamos atacados. A hora do almoço era a hora de terror. Os treinos coletivos eram contra os titulares, e acho que foi um dos ingredientes para fazermos uma boa campanha. O profissional tinha jogadores de renome: Barbosa (ex-goleiro da seleção brasileira de 1950, com mais de quarenta anos, em um fim de carreira triste), ainda excelente goleiro, homem simples e de caráter, muito calado, mas um exemplo; seu reserva de então foi dos maiores goleiros que vi, o Antoninho, vindo do Flamengo e que não se firmou porque era um tremendo viadaço, amigado com o central, o Juvaldo, um negão de meter medo, canhoto e muito forte, que acabou indo para o Santos; o quarto zagueiro acabou no Vasco e foi um dos melhores que vi jogar, o Russo, magrinho e com um senso de antecipação e uma elasticidade incríveis; o meia armador, o Borges, foi para o Botafogo, onde jogou e brilhou por muito tempo. Era, enfim, um bom time profissional. Neste ano ocorreu uma das maiores tragédias da história do Flu: depois de um campeonato de profissionais excelente, cruzou na final com o Botafogo, que tinha, é verdade, um timaço, mas o Flu tinha uma defesa excelente - a melhor do Rio - e não havia tomado mais de um gol em nenhum jogo. Nesse dia o centro-avante do Bota, o Paulinho Valentim, trombador e artilheiro, meteu cinco gols no Castilho - um dos melhores goleiros de todos os tempos da história do futebol -, e de todos os jeitos, desde de cabeça da linha da grande área até de bicicleta, e sem que o Castilho ou o marcador dele - o Pinheiro, um central de grande porte físico, ágil e excelente jogador - tivessem culpa. Resultado final: Bota 6x2 e campeão carioca. Madeira

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