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"Ando devagar/porque já tive pressa..."
Blog destinado a narrar as vivências do autor, através de suas opiniões sobre fatos vividos, e de marcações cronológicas, objetivando deixar para descendentes e amigos suas impressões sobre passagens de sua vida, abrangendo pessoas com sd quais se relacionou e instituições em que laborou, tudo com a visão particular, própria de todo ser humano, individualizada, pois cada pessoa tem sua forma de pensar, ser e viver. Madeira
quinta-feira, 13 de março de 2008
vivencias-madeira-cronologica (1950/3)
Vacilei e tomei aquela surra... E olha o carro de bois passando, gente!
1950: em Argeriz, o colégio funcionava em uma sala da casa do professor, indicado pelo governo, e constava de uma sala simples, com cerca de quinze alunos, que muitas vezes faltavam, pela necessidade de ajudar os pais no trabalho, e eram todos eles meninos. Estudava-se religião (catecismo, pois Portugal era e é muito religioso, na verdade católico, apostólico e romano, sendo os padres, no interior, semi-deuses), aritmética e a língua-pátria, o português, castiço, bem puro, com um forte sotaque luso. Eu, como ouvinte (gentileza do professor Martins, que era muito amigo de meu pai), fazia as provas em caráter extraordinário, e não encontrava qualquer dificuldade, pois vinha de estudo regular em uma das melhores escolas religiosas do Rio, capital federal. No entanto, muito bem educado por meu pai, ficava na minha e nunca fui orgulhoso ou metido a sabe-tudo, respeitando as dificuldades dos pequenos interioranos locais. Afinal, eu sabia o que era luz elétrica, água corrente e outras modernidades, o que não podia explicar aos que nunca tinham saído da aldeia (e eram muitos). Mas a vida era boa e muito interessante, tudo era novidade para mim e as descobertas, continuadas. Desde o cultivo da terra, a colheita das uvas (denominada vindima), o preparo do vinho, com a entrada dentro do grande barril onde eram depositadas as uvas colhidas, que passavam pelo processo de moagem, que consistia em homens e mulheres as pisarem sob o canto de músicas locais, algumas vezes com alguém tocando um tipo de acordeão (eu a fiz - a moagem -, muitas vezes), passando pela condução de rebanhos, pelo malhar o trigo (açoitava-se o milho na eira, depois de sua secagem ao sol, com grandes varas, para os grãos se soltarem, separando-os assim das vagens) e pelos passeios em carro de bois. Neste consegui a proeza, que deve ser única na história de Portugal, de capotar: pedi ao empregado para tocar o veículo, que constava de dois bois puxando um carro pesado, de duas rodas de madeira enroladas em ferro fino, para não se desgastarem com rapidez, e em cima carregava-se o que era preciso: barris, trigo... Enfim, qualquer coisa. A parelha de boi é presa ao carro por uma haste que passa entre os dois bois. Na condução do carro os bois são tocados por uma vara longa, com a qual são batidos, assim tendo a sua direção indicada; quando está pesado ou há qualquer dificuldade, e se necessita forçar o animal, há na ponta um prego, com o qual o espetamos. Bem, no comando, fui espetando-os, para fazê-los correr em um caminho que estava limpo, sem obstáculos, e os bois começaram a correr. Para meu azar, havia uma pedra, e uma das rodas passou sobre ela; o carro tombou fora do caminho, ficando todo torto. Eu, malandro, quando vi a besteira, pulei fora do carro e ninguém acabou magoado... Bom, depois de tirar os bois do atrelamento e desvirar o carro, não escapei, é óbvio, de uma boa surra. Madeira
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