"Ando devagar/porque já tive pressa..."

"Ando devagar/porque já tive pressa..."
"Nessa loooonga estraaaaada da viiidaaa..."

Blog destinado a narrar as vivências do autor, através de suas opiniões sobre fatos vividos, e de marcações cronológicas, objetivando deixar para descendentes e amigos suas impressões sobre passagens de sua vida, abrangendo pessoas com sd quais se relacionou e instituições em que laborou, tudo com a visão particular, própria de todo ser humano, individualizada, pois cada pessoa tem sua forma de pensar, ser e viver. Madeira

quarta-feira, 11 de junho de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1980/1)



1980: ano de decisões, com êxitos e com decepções. Êxito da nossa mudança para nossa casa, conquistada totalmente por Terezinha com sua força de vontade, às vésperas do transplante em janeiro e de um êxito maior, o da realização do transplante no dia 19 de janeiro, com D. Hilda doadora e a presença de Egydio e Ivone juntos, apoiando-nos. Levei Terezinha para o Hospital São José às seis horas da manhã, com a operação marcada para às oito e meia (começou às nove), complicadíssima então, porque consistia na retirada de um rim de D. Hilda por uma equipe médica, enquanto ao lado outra equipe preparava (abria espaço) na barriga de Terezinha para a colocação desse rim, que após retirado foi lavado em um preparado especial de limpeza, antes de ser implantado no novo lugar. Os dois rins de Terezinha que não funcionavam ficariam e ficaram nos seus lugares, apenas sem as ligações de artérias, veias e uréter, e o novo seria colocado à frente, lado esquerdo da barriga, em uma cavidade forçada. Os complicadores foram a complexidade das tarefas, a sincronia necessária aos trabalhos operatórios, a multiplicidade das especialidades médicas envolvidas (nefrologistas, urologistas, anestesistas, angiologistas, instrumentistas, enfermeiros) e a pouca experiência das equipes (era o sétimo transplante realizado no ES). Pela primeira vez não fui trabalhar e levei Terezinha, ficando junto a ela até a entrada no centro cirúrgico, e depois sentei-me em uma escada, na rota do caminho da maca dela, para esperar o término da operação, em um misto de recordações da nossa vida juntos e soluços e lágrimas incontidas, acrescidos de muitas orações (ou seja, esperançoso, triste pelas dificuldades dela e todo cagado...). O que faria sem ela e com três filhos pequenos? Lembrava dos apertos que meu pai tinha passado quando tinha ficado viúvo e aí rezava mais e mais. Só me restava confiar em Deus e assim foi que esperei. Foram sete horas e meia de espera, de angústia e de confiança em Deus. Às quatro e meia horas da tarde passou Terezinha na maca, com o indefectível soro, apagada mas viva, e transplantada. D. Hilda passara por volta de uma hora da tarde. Ambas foram, por segurança, para a UTI, e eu pude enfim comer algo, agradecer a Deus pelo sucesso, agradecer também aos médicos e saber detalhes da operação. Aí soube que nas ligações das artérias e veias ao novo rim, um dos angilogistas, o Dr. Monteiro, havia perdido, deixado escapar uma veia e o sangue jorrou longe, e êle apavorado começou a sapatear e a gritar, sendo então auxiliado pelo outro angiologista, o Dr. Sandri, que recuperou a veia e a operação continuou sem mais problemas. Algo que nunca contei a Terezinha aqui vou relatar: enquanto esperava a saída dela da sala de operações, morreu lá uma pessoa que estava sendo operada não sei de quê, e o corpo passou por mim em uma maca, já todo enrolado, como uma múmia. Nessa hora as orações e o cagaço aumentaram consideravelmente. O transplante tinha dado certo, mas ainda restaram as preocupações, pois Terezinha só podia ir para casa quando o nível de creatinina estivesse estabilizado, o que seria o sinal do organismo de que estava tudo funcionando bem, que o novo rim estava dando conta do recado. Foram mais vinte e três dias de internação dela, com visitas restritas e só possíveis com vestimenta e máscara apropriadas, e nas quais mais uma vez a solidariedade e a entrega do Egydio e da Ivone foram imensas, além, é óbvio, das orações dos demais parentes e amigos, em especial da madrinha dela, D. Arlete, e de Arminda. De dia eu cuidava das crianças, deixando-as com Joana na praia (eram férias) ou no clube, o Álvares, até o almoço; depois ia para o trabalho, recolhia-os à casa de tarde e deixava-os em alguma pracinha com Joana (esta um esteio) ou em casa, e de novo trabalho, com idas rápidas para ver Terezinha, que estava em um sistema de isolamento para prevenir alguma infecção hospitalar que levasse à rejeição. Foi foda, mas nos uniu a todos mais e mais. Nosso aniversário de casamento foi sem comemorações, mas alegre porque ela estava viva e em recuperação. Nem um beijo houve, pois só podia vê-la de máscara hospitalar. Enfim, com doses maciças de corticóide, as possibilidades de rejeição foram eliminadas e Terezinha pôde voltar para casa quase um mês depois da operação, para aos poucos, com algumas restrições iniciais e exames de sangue semanais de controle, retornar à vida normal. Madeira

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