"Ando devagar/porque já tive pressa..."

"Ando devagar/porque já tive pressa..."
"Nessa loooonga estraaaaada da viiidaaa..."

Blog destinado a narrar as vivências do autor, através de suas opiniões sobre fatos vividos, e de marcações cronológicas, objetivando deixar para descendentes e amigos suas impressões sobre passagens de sua vida, abrangendo pessoas com sd quais se relacionou e instituições em que laborou, tudo com a visão particular, própria de todo ser humano, individualizada, pois cada pessoa tem sua forma de pensar, ser e viver. Madeira

quarta-feira, 26 de março de 2008

vivencias-madeira-cronologica (1955/3)


Auditório da Rádio Nacional


1955: com os estudos correndo tranquilamente e o futebol dominando a prática esportiva, o lazer ficava para as reuniões e brincadeiras da turma de rua. O Rio antigo tinha a característica de, certamente por ser pequeno e familiar, agrupar as pessoas pela proximidade das residências. Era comum todos nas ruas conhecerem-se uns aos outros, cumprimentarem-se, auxiliarem-se; as pessoas se sentavam às noites nas portas das casas para conversar, esperando o sorveteiro passar com deliciosos sorvetes caseiros, estes carregados às costas. O sorveteiro da nossa rua era de dia entregador de pão da padaria, e à noite vendia o sorvete feito por ele - daí o sorvete ser conhecido como o sorvete Laís, nome da padaria de meu pai, que porém nada tinha com o sorvete. Pela madrugada, os fregueses que pediam tinham na porta de sua casa a quantidade de pães e o litro de leite desejados, tudo anotado na caderneta do entregador e pago no fim do mês. Cada rua tinha uma carrocinha abastecida de pão e leite, que fazia normalmente seu itinerário e que possuía um número só seu. A Laís tinha seis carrocinhas e seis linhas. Quem precisasse comprar mais leite o fazia nas vacas-leiteiras, denominação de grandes tonéis de latão puxados por burros e conduzidos pelo leiteiro, que vendia o leite aos clientes em vasilhas de vidro do próprio freguês, nas quantidades que davam nas mesmas, normalmente um ou dois litros. Da mesma forma, os fregueses habituais não levavam o dinheiro durante o dia ao ir comprar algo no comércio do bairro. Era tudo anotado em grandes cadernos de capa dura, com a quitação no fim do mês. A faina de fazer o pão, entregue a padeiros e auxiliares, começava por volta das onze horas, com o aquecimento do forno à lenha. Enquanto o forno esquentava, os padeiros e auxiliares preparavam a farinha em grandes panelas, adicionando trigo, manteiga, sal, água e fermento nas quantidades apropriadas. Os doceiros preparavam os pães doces, os bolos e biscoitos de toda ordem. Pouquíssima coisa era industrializada ou comprada pronta. Prontos somente os refrigerantes e as balas, além das conservas em lata vendidas nas padarias e os frios (mortadela, presunto e queijos). Muitas vezes faltava o padeiro ou um auxiliar, meu pai era acordado (morávamos em cima da padaria) e lá ia ele fazer o pão, pois antes de ser o dono foi por muitos anos padeiro de ofício. A noite acordada não modificava os hábitos de meu pai, que no dia seguinte, às sete horas, abria as portas de ferro de correr para estar à frente dos negócios, tratando a todos com educação. O comércio então fechava para almoço, das doze às quatorze horas, e o nosso almoço era obrigatoriamente com todos juntos e, portanto, ao mesmo tempo, ocasião em que conversávamos sobre o dia e assuntos familiares. Notícias só as dos jornais, lidos diariamente por nós todos e que eram, à época, separados em matutinos (líamos, bem cedo, o Diário Carioca) e vespertinos (líamos, à noite, O Globo). TV não existia e rádio só para programas jornalísticos, dentre estes o Repórter Esso, da Rádio Nacional, o melhor em novidades. Também eram ouvidos futebol, novela e programas humorísticos, as outras atrações das rádios, dominadas pelas Rádios Nacional, Globo e Tupi. Os programas de humor mais famosos eram o Balança mas não cai e o PRK-30. Bom, depois do almoço meu pai pegava a jornada da tarde, que ia direto até às vinte e duas horas, quando então fechava a padaria. Algumas vezes eu ajudava lá, mas na verdade ia mais para pegar balas, doces e refrigerantes. À noite o lanche era de fartos sanduíches de presunto, com guaraná Antarctica ou Brahma. A Coca-Cola era então uma insurgente. Eu, às tardes e noites, após fazer todos os deveres de casa, ia me encontrar com a minha turma, a turma da rua José Higino. Madeira

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