"Ando devagar/porque já tive pressa..."

"Ando devagar/porque já tive pressa..."
"Nessa loooonga estraaaaada da viiidaaa..."

Blog destinado a narrar as vivências do autor, através de suas opiniões sobre fatos vividos, e de marcações cronológicas, objetivando deixar para descendentes e amigos suas impressões sobre passagens de sua vida, abrangendo pessoas com sd quais se relacionou e instituições em que laborou, tudo com a visão particular, própria de todo ser humano, individualizada, pois cada pessoa tem sua forma de pensar, ser e viver. Madeira

segunda-feira, 28 de abril de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1963/3)

1963: afastado do comando e da tropa que havia ajudado a criar, do recrutamento e seleção dos homens ao seu treinamento, da tradução e adaptação de manuais à escolha de armamento, tudo, fui mandado para a parte civil do DFSP, uma prova fortíssima de proteção divina, com o melhor caminho a seguir nesta encarnação. Por quê? Porque o normal seria ficar recolhido ao quartel, em serviços internos (oficial-de-dia, expediente administrativo) e não continuar trabalhando normalmente. E o pior, respondendo a um IPM (inquérito policial-militar) para apurar a nossa ação policial. Fiquei tranquilo, pois já sabia que o ferimento causado na vítima não era de calibre 38, o que usávamos. Era dos vagabundos agitadores, que na confusão e na escuridão feriram um participante seu colega. Bem, a proteção divina veio forte mesmo, pois fui deslocado da superintendência de polícia metropolitana - órgão a que estava ligada a GEB, dentro do DFSP (órgão do ministério da justiça que controlava todas as áreas de policiamento do DF) - para a superintendência de polícia federal, que seria depois o embrião do departamento de polícia federal, que reunia à época os serviços que a União, por força do direito internacional público, tinha de gerenciar (estrangeiros, passaporte, Interpol, outros). E então fui lotado, como tenente, na Interpol... Era ou não destino? De culpado por violências policiais à sub-chefe do BCN (bureau central nacional)/Interpol no Brasil. O chefe era um delegado de polícia da metropolitana, o dr. Edson Lasmar, um mineiro tranquilo, sábio e educadíssimo que me acolheu muito bem, ensinou-me os primeiros passos e designou-me para sub-chefe do BCN e chefe da seção de estudos de lá, parte responsável pelas análises criminológicas, relações internacionais na área policial, ligações com as polícias estaduais e tarefas outras. A outra seção era a de investigações. Enquanto isso, volta e meia eu era chamado para depor no ministério do exército (no IPM) e sempre assumia a responsabilidade pela ação de desembarcar a tropa e dissolver a baderna, e negava, por não ser verdade, a responsabilidade minha de ter dado qualquer ordem de atirar e de ter sido um dos nossos que o tivesse feito. Tinha acertado com o dr. Edson Lasmar que pelo menos uma vez por mês eu teria de ir ao Rio, afinal já estava acabando o penúltimo ano de direito - e fui autorizado a ir. Egydio já casado, morando na Asa Norte e eu todo domingo pegando um rango na casa dele, e às vezes depois, pela manhã, jogando futebol de campo em algum time de várzea que ele arrumava. Durante a semana, às noites, batia minhas peladas de salão com o pessoal do quartel. Com a mudança de Egydio do nosso quarto e minha saída forçada da S.E., tratei logo de arrumar outro lugar para residir. Já paisano (andando sem farda), descobri postos policiais existentes em todas as superquadras, postos construídos para a prestação de serviços públicos aos moradores da quadra (sediariam serviços para tirar carteira de identidade, de trabalho...), que não vingaram e estavam servindo de moradia para servidores públicos solteiros. Catei um que tivesse um compartimento vazio (eram quatro saletas, com banheiro privativo) e encontrei na Asa Sul, na superquadra 411, ótima localização, principalmente para mim, que morava na Velhacap e estava trabalhando no edifício do então BNDE. Mudei-me logo com meu pequeno enxoval (cama, colchão e armário) - e ficou bom. Um pouco antes tinha comprado meu primeiro carro, um renault dauphine verde claro, ano 1960, de 31 hp, um rabinho quente muito econômico, e assim tudo estava tranquilo (apesar do IPM). Logo dominei o funcionamento da Interpol e comecei a apresentar resultados, reorganizando os arquivos, descobrindo formas de dinamizar o andamento dos serviços, traduzindo do francês e inglês; enfim, dando certo. Brasília e o Brasil cada vez mais caóticos, sem governo, com os movimentos sociais mandando e desmandando e os brasileiros, salvo os cúmplices da bagunça, aqueles que se beneficiavam dela, insatisfeitos com os desmandos dos governantes. Então, em uma ida ao Rio, falei com meu pai que estava a fim de me mudar para Portugal, onde existia ordem - pois esse negócio de ditadura afeta apenas quem é vagabundo e baderneiro -, e quase (depois de muitos anos) levei mais uma surra. Meu pai me disse, curta e grossamente: Aqui nascestes e aqui é teu lugar. Trates de ser correto, estudar e lutar para que teu país melhore sempre. Eu saí do meu para não passar necessidade, mas este não é o teu caso. Nunca mais pensei em sair da minha pátria - por nada. Madeira

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