"Ando devagar/porque já tive pressa..."

"Ando devagar/porque já tive pressa..."
"Nessa loooonga estraaaaada da viiidaaa..."

Blog destinado a narrar as vivências do autor, através de suas opiniões sobre fatos vividos, e de marcações cronológicas, objetivando deixar para descendentes e amigos suas impressões sobre passagens de sua vida, abrangendo pessoas com sd quais se relacionou e instituições em que laborou, tudo com a visão particular, própria de todo ser humano, individualizada, pois cada pessoa tem sua forma de pensar, ser e viver. Madeira

terça-feira, 1 de abril de 2008

vivencias-madeira-cronologica (1955/4)


Aprontei foi muito nessa rua...


1955: este ano foi de muita molecagem, no colégio e nas ruas da Tijuca. No São José era comum prepararmos rabos de papel para colocá-los nos colegas, que, ao dirigirem-se à frente da sala para a apresentação de trabalhos ou para as provas orais, desfilavam belas e por vezes coloridas rabiolas, tornando-os hilários. Também era comum colar papéis nas costas do colega, ao abraçá-lo, com dizeres tipo Dê-me um tapa ou Sou burro, e a partir daí o infeliz era, no recreio, enchido de porrada. De minha parte, minhas principais performances, aquelas que renderam castigos de escrever linhas ou ficar depois da saída, de pé, no pátio, segurando uma árvore, ou seja, de frente para a mesma, foram, respectivamente e pela ordem de grandeza, levar uma galinha (surrupiada, na hora do recreio, do galinheiro dos maristas, que ficava ao lado da minha sala de então) e, na hora do terço, liberar o bico da mesma, que no meio da ave-maria cacarejava. O professor tinha que continuar a reza, e fingia ignorar o som, no que eu apertava de novo o bico da mesma, que se calava. Foi uma loucura, um terço que, certamente para a Igreja Católica, não valeu, e, para mim, rendeu uma suspensão e uma bela surra em casa - e mais uma perda de pontos junto à Igreja, pois, como sempre, ao fim dos risos dos moleques da sala (o pessoal do futebol) e da reprovação dos carolas, eu me acusei, pois não aceitaria de jeito nenhum que os demais levassem esporro do professor, ou que fosse aplicado um castigo coletivo. Aliás, esse tipo de castigo valeu uma ida de meu pai ao colégio, uma das pouquíssimas visitas suas, pois em certa aula chata, quando o irmão marista e professor escrevia no quadro, jogaram uma bolinha na cabeça de um dos beatos (os cdf´s), sentado à frente (incrivelmente, não fui eu), e acertaram os pés do professor; este se virou e exigiu que o autor se identificasse, mas este não apareceu. O professor então disse que ia punir a sala toda. Levantei-me e falei que não aceitava isso, que não cumpriria de forma nenhuma qualquer punição coletiva que eu não merecesse. Resultado: fora de classe e suspensão. Ao chegar em casa e relatar isso ao meu pai, ele não aceitou e foi ao colégio comigo, esculachando o reitor e exigindo que fosse anulada a punição, com a minha volta às aulas - e assim foi feito. Era um Pai e tanto, acima de tudo justo, e um exemplo de comportamento... A segunda grande performance foi a de puxar o gancho que segurava a cortina de lona da sala, e com isso a mesma desenrolou-se; como havia uma grande ripa em sua base, para evitar que o vento a fizesse oscilar, caiu fazendo um barulho infernal, assustando a todos e, em especial, ao professor. Havia, nas salas, um grande comércio de troca de linhas. Um dos castigos mais comuns era escrever uma grande quantidade de linhas, repetidas vezes, dizendo o que não devíamos fazer, tipo não devo falar em sala de aula, não devo correr no recreio e assim por diante. O mínimo era de cem linhas, e eram cumulativas, ou seja, a cada nova falta o professor anotava no seu caderno de chamada a quantidade de linhas que o aluno indisciplinado devia. Ora, descobrimos que o professor não checava o total. Como ele sabia que uma página de caderno tinha 23 linhas e, portanto, cada folha 46 linhas, ele contava as folhas entregues e chegava ao total determinado, apagando a anotação feita do nome do devedor e do total entregue. Nós, por outro lado, não contávamos as linhas escritas e saíamos escrevendo nas aulas chatas (antecipadamente, pois sabíamos que seríamos pegos em falta em algum momento), e assim tínhamos sempre um estoque pronto de linhas. Quando alguém tinha de entregar as linhas e não tinha o total da punição pronto, um colega cedia as linhas dele, que depois eram devolvidas e colocadas no meio das do autor - e entregues, e tudo estava bem. Creio que os irmãos sabiam disso e não se importavam, pois nunca houve uma devolução de linhas de terceiros... Madeira

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