"Ando devagar/porque já tive pressa..."

"Ando devagar/porque já tive pressa..."
"Nessa loooonga estraaaaada da viiidaaa..."

Blog destinado a narrar as vivências do autor, através de suas opiniões sobre fatos vividos, e de marcações cronológicas, objetivando deixar para descendentes e amigos suas impressões sobre passagens de sua vida, abrangendo pessoas com sd quais se relacionou e instituições em que laborou, tudo com a visão particular, própria de todo ser humano, individualizada, pois cada pessoa tem sua forma de pensar, ser e viver. Madeira

segunda-feira, 21 de abril de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1961/3)


Inauguração de Brasília.


1961: o segundo semestre veio inaugurando um novo ciclo, totalmente diferente do que eu havia vivido até então, pois a partir de agosto comecei a trabalhar, a ter uma profissão, um emprego. Bem, em 31 de julho me formei oficial da reserva do exército brasileiro, da arma de infantaria, recebendo a carta-patente de oficial e o posto de aspirante em cerimônia de recebimento da espada, símbolo do oficialato, no estádio do Vasco da Gama, onde eu já tinha jogado. Como terceiro colocado do curso entre os mais de duzentos e cinqüenta infantes, tive de recebê-la das mãos de um integrante do alto comando do exército, um general de quatro estrelas, na tribuna de honra do estádio, com todos os formandos perfilados. Imaginem o orgulho de meus pais, que ainda que tivessem perdido a oportunidade de me dar a espada (hoje com o Caio e com a homenagem pela colocação gravada no punho) acompanhavam tudo de perto, em lugar reservado aos pais dos homenageados. Lá estava eu com o uniforme de gala (o branco e cinza), vibrando. Formado, ao ir ao CPOR nos primeiros dias de agosto para retirar meus últimos pertences do armário (tênis, calção, camisetas e apostilas), fui informado de que eles tinham recebido uma correspondência do ministério da justiça. Este solicitava a difusão entre os novos aspirantes do recrutamento de oficiais da reserva para a composição do quadro da PM do distrito federal, então em fase de reestruturação ao sair da Novacap (empresa vinculada à prefeitura do DF, responsável pela construção de Brasília) e passar à jurisdição do MJ. Interessei-me de imediato, pois apesar da cobertura total de meu pai e de suas dicas de que após formado eu arranjaria um bom emprego na prefeitura ou no governo estadual, eu não queria esperar mais quatro anos de estudos vivendo novamente de mesada (não tinha mais o salário de aluno), e ansiava pela independência absoluta, queria ser dono de meu nariz; afinal, eu já me virava muito bem em tudo. Assim, após algumas elucubrações, conversas com meus pais, tomei a decisão de ir para a Brasília recentemente inaugurada fazer o concurso para oficial da guarda especial, então o nome da PM/DF. Com a carta-patente e demais documentos na bagagem (uma bolsa do CPOR contendo uma muda de roupa civil e objetos pessoais), fardado de aspirante, fui ao aeroporto do Galeão (que não era o atual, era o que hoje é a base aérea da Ilha do Governador - o aeroporto do Rio, o civil, era o Santos Dumont, de onde partiam todos os vôos, sendo o Galeão apenas militar) e, depois de me identificar, consegui no CAN (correio aéreo nacional da FAB que levava passageiros e correspondência oficial - e mesmo dos Correios - para as regiões inóspitas deste país) uma passagem de ida para Brasília para o dia 21 de agosto, dia do aniversário de meu pai, às sete horas da manhã, com a apresentação no aeroporto às cinco horas. Como nunca tivemos frescuras com datas, desde que uma causa maior houvesse, ele entendeu bem e colocou-se à disposição, mas eu tinha o último salário de aluno e de nada precisava, a não ser a coragem de enfrentar o desconhecido. No dia 21 embarquei num DC-3 da FAB. Este avião não tinha pressurização, viajava baixinho e você via tudo no chão com clareza; para respirar e circular o ar havia buraquinhos nas pequenas janelas redondas (lembravam escotilhas de navio, destampadas e pendentes em arames quando estava muito quente). Sentava-se de lado em um banco de metal (eram aviões militares, portanto sem conforto), e quando pousados ficavam inclinados para trás sobre a única roda, a de trás. Nas situações de calor eram muito quentes, e nas de frio muito frios. O vôo durava mais de cinco horas, pois tinha de haver um pouso em Belo Horizonte, na Pampulha para reabastecimento, coisa de uma hora, quando todos desciam. Demorava mais ou menos uma hora e quarenta do Rio até BH, mais uma hora no solo em BH e quase três horas de BH à Brasília. Cheguei e deslumbrei-me com a cidade vista do alto, pois o seu desenho era diferente de qualquer outro, e também fiquei fascinado pelas grandes áreas sem nada construído, um nada de terra avermelhada, seca. No aeroporto militar, fardado, logo consegui uma carona numa kombi da FAB que ia para o centro, e me deixaram no quartel da GEB pela hora do almoço. Novo ciclo, nova vida. Madeira

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