"Ando devagar/porque já tive pressa..."

"Ando devagar/porque já tive pressa..."
"Nessa loooonga estraaaaada da viiidaaa..."

Blog destinado a narrar as vivências do autor, através de suas opiniões sobre fatos vividos, e de marcações cronológicas, objetivando deixar para descendentes e amigos suas impressões sobre passagens de sua vida, abrangendo pessoas com sd quais se relacionou e instituições em que laborou, tudo com a visão particular, própria de todo ser humano, individualizada, pois cada pessoa tem sua forma de pensar, ser e viver. Madeira

sábado, 26 de abril de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1963/1)



1963: até setembro continuou a mesma a minha vidinha de Gebiano (integrante da GEB). Muito trabalho, idas de estudo ao Rio, muito futebol - mais de salão, pois este, apesar de ser a maioria em quadra de asfalto (a do quartel, que comia um tênis por semana e ralava quando se caía) ainda era melhor que o barro vermelho dos campos de futebol. No quartel, nos dois dias de expediente administrativo, eu gastava a manhã toda em educação física com a turma que estava retornando da folga, e fechava com peladas de salão de duas horas de duração. À noite, muitas vezes arrumávamos jogos (em diversas quadras) pro nosso do time de salão, o dos oficiais (muito bom, formado por mim, Egydio, Rezende - mineiro bom de bola - e Barbalho - carioca de São Cristóvão, atacante rápido e goleador -, completando o time com um sargento da cavalaria, o Moslaves, muito bom), e levávamos uns dois outros reservas quaisquer, pois ninguém queria dar lugar e éramos os melhores, dificilmente perdíamos e fizemos nome em Brasília. Das passagens mais marcantes, sempre com o Egydio, duas foram inesquecíveis, assim como a nossa amizade. Uma quando eu, no quartel de serviço em um sábado, recebi um telefonema avisando que na rodoviária de Brasília havia um oficial da GEB enfrentando uma patrulha do exército. Desloquei-me rápido e lá chegando encontrei Egydio, à paisana (sem farda), encostado em uma das grandes pilastras, cercado de soldados do exército que portavam fuzis com as baionetas colocadas. Os soldados investiam contra ele para tentar imobilizá-lo; ele recuava e quando chegavam perto se abaixava, tentando dar rasteiras e rabos-de-arraia - e então os soldados recuavam. Cheguei fardado, identifiquei-me ao sargento-comandante dos soldados e consegui apaziguar os ânimos quando o apresentei como oficial, sanando o problema com a patrulha, problema gerado por olhares mútuos e desafiadores entre Egydio e os soldados, certamente fruto dos fechamentos da zona. A outra, na qual fiquei de babá do Egydio, ocorreu quando houve uma tragédia com um ônibus interestadual que fazia a linha Brasília x Rio; ele caiu da ponte do Rio Prata, na divisa Brasília/Minas, matando quase todos os passageiros (incluindo os três filhos, todos homens, do nosso comandante, o Ten. João - a esposa se salvou e, por marco divino, ainda tiveram uma filha). O Egydio foi de viatura ajudar nas buscas e a Ford F-100 em que ele estava (chovia muito naquela noite) capotou. Ele, pois, ficou preso nas ferragens, com o tórax comprimido. Pelo rádio me informaram e lá fui eu buscá-lo; chegando, eu o encontrei todo arranhado, com dificuldade de respiração, cheio de dores nas costas. Tratei de colocá-lo na ambulância e trazê-lo para o hospital distrital, limpando os sangramentos e animando-o. Ainda bem que nada de mortal ocorreu (ele ficou com problemas de coluna o resto da vida, mas tudo bem então). Depois de alguns poucos dias de hospital, nos quais eu levava comida e dormia com ele, recebeu a alta e foi para o nosso quarto, onde eu dava sopa em sua boca, fato aliás repetido outra vez, quando ele teve uma hepatite (benigna) e devia ficar em repouso, deitado, só podendo comer coisas doces - e então eu comprava umas latas grandes de doce de quatro cores (vermelho, amarelo, marrom e verde - goiabada, marmelada, bananada e figada), cortava e dava novamente em sua boca. Foi um companheiro inesquecível e fraterno. Além de fechar a zona toda noite, esvaziávamos locais ocupados por grevistas, impedíamos invasões (planejadas ou não), combatíamos rebeliões no presídio ao lado do quartel (único presídio de Brasília), policiávamos jogos de futebol decisivos e de alto risco, baile oficial de aniversário da cidade, parada de sete de setembro, eleição de miss Brasil, vinda de altos dignatários de outros países... Ou seja, tudo que não fosse policiamento normal, do dia-a-dia, que representasse perigo maior ou que necessitasse de uma tropa coesa, unida e treinada diariamente, era com a S.E. O restante da GEB fazia o Cosme e Damião (policiamento a pé, em duplas), a rádio-patrulha e tinha a cavalaria para a zona rural. Toda rebordosa era com a tropa de elite - e nós resolvíamos. Havia uma flama, um orgulho muito grande pelo fato de sermos reconhecidos, eficientes, eficazes, vencedores. Madeira

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