"Ando devagar/porque já tive pressa..."

"Ando devagar/porque já tive pressa..."
"Nessa loooonga estraaaaada da viiidaaa..."

Blog destinado a narrar as vivências do autor, através de suas opiniões sobre fatos vividos, e de marcações cronológicas, objetivando deixar para descendentes e amigos suas impressões sobre passagens de sua vida, abrangendo pessoas com sd quais se relacionou e instituições em que laborou, tudo com a visão particular, própria de todo ser humano, individualizada, pois cada pessoa tem sua forma de pensar, ser e viver. Madeira

terça-feira, 27 de maio de 2008

vivencias-madeira-cronológica (1972/2)


Em São Luís do Maranhão, cuidado e firmeza para não escorregar nas pedras


1972: após a chegada estrelada no Maranhão, com grande apreensão de drogas, comecei a conhecer os maranhenses e fui saber porque tinha ocorrido a saída do superintendente anterior, e quem era cada um dos subordinados e das autoridades locais. Isto foi feito através de leitura de fichas funcionais, de dossiês existentes na nossa área de informações e de contatos com o SNI, agência de Fortaleza (não existia agência em São Luís). Foi muito pesado, mas encorajador: teria muito trabalho, enfrentaria os poderosos, haveria muita briga, conquistaria os bons e foderia só os vagabundos. Bom, o comandante anterior da PF por lá tinha sido afastado a pedido da igreja católica local, por ter (segundo ela) torturado dois padres estrangeiros subversivos que estavam pregando a luta armada na zona rural maranhense (uma vez confirmado o fato, foram expulsos do Brasil). Isto valeu-me a primeira briga local. Com menos de um mês como chefe da PF fui convidado para uma reunião na sede da CNBB/MA (conferência nacional dos bispos do Brasil), a qual compareci, inocentemente julgando que seria para um reencontro, para a formação de um novo elo Igreja/DPF. Lá chegando deparei-me com cerca de doze bispos sentados, com as cadeiras em forma de U e a destinada a mim na parte aberta do semi-círculo. Sentí-me na inquisição, mas guerra é guerra e aprendi a não ter medo na vida, pois o pior que pode acontecer é a morte, que na realidade é nova e melhor existência. O líder deles era dom Hélio Campos, denominado o bispo vermelho por suas declarações comunistas (ele pregava que Deus não colocou cercas nas terras, então todas deveriam ser derrubadas pelos camponeses para a sua ocupação). A primeira pergunta, sem maiores protocolos, foi se a PF era uma corporação de torturadores, de assassinos. De imediato perguntei a eles se a Igreja era uma corporação de pedófilos e homossexuais - isto para mostrar-lhes que toda organização tem gente que erra -, e eles viraram o bicho (aliás, as bichas, pois o próprio arcebispo do Maranhão era uma bichona); o diálogo ficara impossível. Daí virei as costas e fui embora. Como sempre, meu pavio meio curto botou pra quebrar. Descobri logo que o que queriam no Maranhão era a autoridade como a que eles tinham lá, ou seja, baseada no pior tipo de corrupção que existe, que é a afetiva, a de quebrar o galho dos conhecidos e dos conhecidos dos conhecidos, tudo chefiado pela família Sarney. Bem, resolvi - e só podia ser assim pela minha educação e pela formação que tive - que cumpriria a lei, e com muito cuidado para não ser traído. Foi um resto de ano difícil, só de trabalho, indo a uma ou outra cerimônia para representar o DPF, e até mesmo acordando e encontrando na porta de saída de casa (dentro, portanto, do terreno) despachos de macumba bem feios. Eu tratava de pulá-los, e então mandava limpar e jogar tudo no lixo, sem comentários. Mas São Luís (mesmo com muitos pobres, com dificuldade de tudo e com muita sujeira) tinha coisas agradáveis como a praia, o clima e a tranquilidade, pois o maranhense é como o baiano, calmo e devagar. Montei o time de futsal da SR (consegui alguns mais novos, que eram contratados da estação-rádio e dos serviços auxiliares) e as coisas começaram a ficar gostosas. Madeira

vivencias-madeira-cronológica (1972/1)



1972: vida de profissional, ainda mais federal, é feita de mudanças inesperadas, e em junho deste ano veio um novo ciclo, com mudança de estado. O meu trabalho no combate às drogas repercutiu em Brasília, na cúpula do DPF, e fui escolhido, entre cerca de vinte delegados, para fazer um concurso público interno para assessor de planejamento e controle da direção geral. Feito, acho que pela única vez na vida, fui classificado em primeiro lugar e recebi a ordem de aguardar novas instruções. Fiquei bastante desiludido, pois o que eu mais queria era continuar na linha de frente, não ir para um gabinete com ar refrigerado, de terno e gravata. Mas, felizmente, antes de que isto ocorresse, surgiu uma nova oportunidade de promoção com a vacância do cargo de superintendente regional (dirigente máximo - administrativo e policial - da PF em um estado) no Maranhão. A mudança seria radical (e foi) em termos de cidade, de vida familiar (educação e saúde, entre outros), de distância de nossa cidade natal (Rio, pois de Curitiba, em nove horas de ônibus, estávamos lá), mas era promoção, novas e muito maiores responsabilidades (o que me atraía muito) e a chance de fazer rodar todas as atribuições da PF à minha maneira, além de não ficar burocratizado, teórico. Aceitei, e em junho saímos de um frio de zero grau (no dia do embarque, no aeroporto de São José dos Pinhais) para um calor gostoso de vinte e cinco graus em São Luís do Maranhão. Sem mobília, o chefe da comunicação social da SR/MA arranjou um sítio na estrada que liga São Luís à São José do Ribamar, já mobiliado, e lá residimos por cerca de quinze dias, todos nós (eu, Tê, crianças e Hilda). Posse concorrida, pois à época o superintendente da PF era a segunda autoridade do executivo federal no estado, abaixo apenas do comandante da unidade do exército (na aeronáutica e na marinha os chefes eram sargentos ou sub-oficiais), identifiquei rapidamente - até por não gostar - os riscos das babações, dos puxa-sacos e, principalmente, da imprensa sensacionalista. Para completar, por pura sorte, no dia seguinte à posse, primeiro dia de trabalho, mandei averiguar uma carta anônima, manuscrita, que dizia que em um navio cargueiro que tinha chegado havia uma grande quantidade de droga em um dos compartimentos, que deveria estar cheio de água (lastro), e apreendemos a maior quantidade de drogas ocorrida no Nordeste. Foi manchete nacional e tome de imprensa na nossa sede. Tratei de mandar o chefe da comunicação atender os repórteres. Foi um resto de ano de muito trabalho, pois o efetivo era reduzidíssimo e de policiais optantes da polícia carioca, velhos, cansados e/ou com família no Rio, sozinhos e aí amasiados, ou de contínuas licenças médicas para ficarem em sua cidade de origem. Delegado havia apenas um, licenciado, o dr. Laís Loureiro Alves, que tinha brigado com o chefe anterior e estava no Rio de licença. Laís era da minha turma e fonei para ele, chamando-o para voltar e vir trabalhar comigo; ficamos nós dois, as únicas autoridades policiais federais no Maranhão. O jeito era eu administrar e também ser delegado, presidindo inquéritos e flagrantes. E assim o fiz, com trabalho adoidado e muito êxito. Alugado um bangalô (como eram chamadas as casas com quintal) próximo à superintendência, na rua Oswaldo Cruz 1828, denominada pelo povo de Rua Grande (por ser muito comprida), mobiliário recebido, crianças matriculadas no colégio Becassine (São Luís tem muito de sua cultura baseada na história do domínio francês), viramos maranhenses, com muita praia (principalmente Araçagi) nos feriados e finais de semana. Madeira

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