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"Ando devagar/porque já tive pressa..."
Blog destinado a narrar as vivências do autor, através de suas opiniões sobre fatos vividos, e de marcações cronológicas, objetivando deixar para descendentes e amigos suas impressões sobre passagens de sua vida, abrangendo pessoas com sd quais se relacionou e instituições em que laborou, tudo com a visão particular, própria de todo ser humano, individualizada, pois cada pessoa tem sua forma de pensar, ser e viver. Madeira
quarta-feira, 9 de abril de 2008
vivencias-madeira-cronológica (1957/2)
1957: este ano representou também uma mudança na minha carreira futebolística, meu grande vício em termos de esporte. Fui convidado a transferir-me do Confiança, onde estava estourando a idade de infanto-juvenil (não havia essas categorias de fraldinha, mirim, infantil, sub-isso, sub-aquilo, escolinha; futebol de chuteira era apenas o infanto-juvenil, dos 15 aos 18 anos incompletos; juvenil, dos 18 aos 21, maioridade; depois era se profissionalizar ou ficar em times amadores; futebol se aprendia no meio da rua ou nos colégios), para a Portuguesa do Rio, clube da colônia lusitana, fruto das atuações que me levaram à seleção dos melhores do campeonato infanto de 1956. Na Associação Atlética Portuguesa, com sede social no centro do Rio (rua Barão de São Félix), sem campo e que treinava no Nova América, time de uma fábrica de tecidos de Del Castilho, subúrbio carioca, fui inscrito em janeiro na federação metropolitana de futebol, a FMF, e tive de cumprir um estágio de três meses, ou seja, só podia treinar e nem amistosos jogar; este era um ítem da legislação existente, feito sob medida para dificultar as mudanças seguidas de clubes de jogadores amadores ou menores. Foi necessária a autorização de meu pai para que eu assinasse o compromisso, o que consegui após uma célebre frase dele: "Ó Theo, futebol não dá camisa a ninguém, tem é de estudar" - e na época não dava mesmo. Futebol era coisa de semi ou todo analfabeto, de quem não tinha estudo, com raras exceções (Pedro Amorim, ponta-direita do Fluzão e em 1946 super-campeão, era médico). Os dirigentes eram torcedores fanáticos, mas não ladrões como os de hoje; os jogadores que iniciavam a carreira em um clube, principalmente nos grandes, só jogavam nele e amavam mesmo a camisa, não a beijando a cada contrato novo - ganhavam mal e quando precisavam de algum dinheiro extra, para casar ou - os solteiros - para uma farra maior, pediam-no a algum sócio-benemérito ou a um diretor abonado. Eram tratados como filhos mimados, e quando faziam partidas excepcionais recebiam gratificações extras (nunca do clube, mas de pessoas ligadas a ele, o que veio depois a se tornar oficialmente a gratificação por vitória, o chamado bicho). Os mais vivos e oriundos da classe baixa aproveitavam-se dessa paixão e, às vésperas de jogos importantes (clássicos ou decisões de campeonato), ficavam doentes ou diziam-se sem condições de jogar por conta de um problema financeiro grave em casa, e aí arrancavam um dinheirinho a mais antes do jogo; logicamente, pediam mais um pouco em caso de vitória. Em todo caso, prefiro o futebol que conheci, sem essa mídia vagabunda que leva dinheiro de técnicos e jogadores, sem empresários, sem clubes deficitários, sem propaganda em camisas (descaracterizando-as), sem contratos milionários que se tornam impagáveis, sem manobras de bastidores; enfim, ainda jogado sob a égide do compromisso, onde um fio de bigode valia tanto quanto a assinatura de um papel, e foi esta a forma em que fui educado. Então também não se valorava o jogador pelo porte atlético, pela força física, pelo tamanho, e sim pelo trato com a bola (temos hoje tanto time e jogador de futebol porque este é mais atleta que futebolista). Não existia comissão técnica nem treinador de goleiro (depois deste o goleiro começou a escolher um canto na batida de penalty, e alguns já estão escolhendo na batida de faltas), consistindo a cabeça de um time de treinador - escolhia, treinava e escalava o time, orientando durante o jogo o comportamento dos jogadores e dando ele mesmo os treinamentos físicos, chamados então de individual e compostos de aquecimento, corridas, alongamento e bola, muita bola, ou seja, coletivo este parado a todo momento para a correção de posicionamento, para as cobranças de falta e outros fundamentos -, massagista e roupeiro. O médico, sempre um traumatologista, só aparecia na revisão médica das terças ou quintas, quando de jogo na quarta. Nada de comissão técnica de mais integrantes que jogadores e de doutores em tudo, e ainda assim nenhum jogador ficava mais que uns poucos dias parado por contusão. As faltas eram poucas e recriminadas pelo treinador, só podendo dar porrada os laterais, e isto quando os pontas eram muito ariscos (que saudade dos pontas!) - levavam uma no canto da bandeirinha de córner para respeitar o adversário, mas sem alarde. Efetivamente era outro futebol, recheado de artistas da bola e com a picaretagem restrita a alguns jogadores do folclore carioca. Vi e acompanhei isso tudo durante este ano. Madeira
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