"Ando devagar/porque já tive pressa..."

"Ando devagar/porque já tive pressa..."
"Nessa loooonga estraaaaada da viiidaaa..."

Blog destinado a narrar as vivências do autor, através de suas opiniões sobre fatos vividos, e de marcações cronológicas, objetivando deixar para descendentes e amigos suas impressões sobre passagens de sua vida, abrangendo pessoas com sd quais se relacionou e instituições em que laborou, tudo com a visão particular, própria de todo ser humano, individualizada, pois cada pessoa tem sua forma de pensar, ser e viver. Madeira

quarta-feira, 12 de março de 2008

vivencias-madeira-cronologica (1950/2)



1950: estabelecido em Argeriz/Valpaços/Trás-os-Montes em fevereiro deste ano, deparei-me, aos 10 anos de idade, com alguns grandes e novos desafios, como entender o que os portugueses falavam e fazer-me entender. Entre outras coisas, aprendi que português não se machuca, e sim se magoa, e então durante algum tempo ganhei o apelido de Seu Machuca, por ter em determinado momento, ao me arranhar, dito "me machuquei"... Aprendi a dificuldade e a diferença, para mim monstruosas, de viver em uma cidade como o Rio de Janeiro e no interior, à época, sem luz elétrica, sem carros (apenas às 8 e às 17 horas passava o pequeno ônibus que conduzia os passageiros até Valpaços, a cerca de 9 km de Argeriz; fora isto, era a cavalo ou carro de bois), sem telefone ou jornais, e o tétrico, com o banheiro ou retrete (nome luso), fora de casa, sem iluminação, sendo um buraco, onde ao terminar jogava-se terra ou cal sobre as fezes, fechando-se depois a porta da retrete por causa das moscas. O dia tinha início ainda muito escuro para todos, trabalhadores e patrões, aqueles pegando ferramentas ou os animais e estes preparando o almoço para eles levarem, constituído no geral de vinho em odres de couro e pão caseiro com presunto cru (delícia). Isto na faixa de três/quatro horas da manhã, com qualquer tempo. Eu, é óbvio, à luz das lamparinas (pequenas) e candeeiros (grandes), todos constantes de azeite como combustível e pano como mecha, acompanhava tudo, curioso... Às nove ou dez horas ia para a escola, uma espécie de aluno-ouvinte, com intervalo das 12 às 14 para almoço e retorno à tarde, quatro/cinco horas. Nos intervalos, muita brincadeira de subir em árvores e comer frutas de todo tipo, não frutas como as brasileiras, mas maçãs, pêras, figos, amoras, uvas de todos os jeitos e cores, morangos, cerejas... Logicamente, cada uma em sua época, culminando no Natal com as célebres castanhas. As noites eram regadas por muito vinho e pão, e principalmente muito papo, com amigos reunidos em redor da lareira, se frio, ou sob a luz da lua, na varanda, se quente. Nestas conversas meu pai destilava a sabedoria própria da idade e das experiências vividas, e eu me embebia dos bons exemplos, oriundos da história de vida de luta honesta e corajosa de um jovem que, aos quinze anos, emigrou para o Brasil em busca de uma existência melhor do que a de um pastor de cabras e ovelhas, na fronteira de Portugal com a Espanha. Madeira

Um comentário:

caio disse...

Cotidiano puxadíssimo que se repete até hoje por lá.

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